


No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21 de setembro), servidores do TRT-GO mostram que, com acessibilidade e respeito, barreiras podem se transformar em conquistas e o trabalho ganha ainda mais valor. Nossa equipe conversou com três servidores: Monique, que é cega; Pereira, autista; e Andressa, que possui deficiência física. Suas histórias reforçam que inclusão não é favor, é direito, e revelam que ainda temos muito a aprender sobre convivência, acessibilidade e respeito às diferenças.
Aos 21 anos, a servidora Monique Rabelo teve sua vida transformada após um assalto a banco em que uma fachada de vidro estilhaçou na sua frente e a fez perder totalmente a visão. Na época, era estudante de Direito e se viu diante de uma escolha difícil: deixar-se abater ou seguir adiante. “A gente tem na vida duas escolhas: viver com revolta e tristeza ou escolher a fé em Deus, resiliência, força de vontade e realmente querer vencer os desafios”, relembra. Ela concluiu a faculdade, passou em concurso público no TRT do Pará, atuou um tempo no TST em um projeto de acessibilidade do PJe para pessoas com deficiência visual e hoje atua na Comunicação do TRT de Goiás.
Monique conta que, no início da carreira, enfrentou dificuldades pela falta de acessibilidade e pelo preconceito em relação à sua capacidade. “Eu não conseguia executar praticamente nada do que era proposto, não porque eu não era capaz, mas, sim, porque o local onde eu estava trabalhando não era acessível”, afirmou. Aos poucos, ela conquistou adaptações no ambiente, como mesa em local estratégico e computador com leitor de tela, o que lhe permitiu desempenhar suas funções. “Eu me sinto valorizada quando recebo funções extras e mais atividades”, afirmou ao contar que assumir tarefas de maior responsabilidade a faz sentir que está tendo bons resultados. Na Comunicação, a deficiência visual não é barreira para a criatividade e a produtividade. Ela redige textos jornalísticos, faz revisões e participa de projetos institucionais.
“Eu vou escolher o caminho de lutar e vencer. Não foi fácil, não é fácil, mas eu fiz”, resume Monique, ao refletir sobre sua trajetória. A servidora acredita que ainda é preciso avançar em acessibilidade nas instituições públicas, sobretudo no deslocamento até as salas de trabalho e no preparo das equipes para receber colaboradores cegos e com outros tipos de deficiência. Para ela, informação e treinamento são essenciais para criar um ambiente realmente inclusivo. “Eu hoje me sinto muito mais acolhida, muito mais reconhecida e valorizada pelo meu trabalho e pelo meu esforço”, ressalta.
O servidor Luiz Carlos Pereira recebeu o diagnóstico de autismo já na vida adulta. Apaixonado pela área de segurança desde a infância, ele construiu sua trajetória entre o Exército e a Polícia Militar de Sergipe e, há poucos meses, ingressou no cargo de agente de Polícia Judiciária do TRT-GO. “Quando eu saio de casa, eu já dou uma virada de chave. Entro no ambiente já observando por onde sair, como reagir se acontecer alguma coisa. Sempre tive isso, desde a época do Exército e da Polícia. No serviço, a previsibilidade me ajuda muito, porque a falta de previsibilidade me mata. Se eu sei o que pode acontecer, já me preparo melhor”, contou. Em casa, essa busca por previsibilidade também se manifesta: Pereira costuma repetir as refeições, prefere roupas sempre nas mesmas cores e evita acessórios. Ele lembra que antes era “extremamente metódico”, mas afirma que, com o tempo, ganhou mais flexibilidade, especialmente pelo apoio da esposa, que avisa previamente quando a rotina vai ser alterada.
No trabalho, Pereira afirma que rende melhor quando sabe o porquê de cada tarefa, por isso valoriza o diálogo com a chefia direta, que explica objetivos e contextos. Esse cuidado dá sentido às ordens e reduz a ansiedade. Para ele, a convivência também se torna mais simples quando há sinceridade. “Com pessoa autista, seja sincero: diga o que gostou e o que não gostou”, destaca ao mencionar a importância da clareza na comunicação. Pereira acrescenta que nem sempre a reação emocional vem no “formato esperado”. Ele recorda, por exemplo, que ficou muito feliz ao ser aprovado no concurso do TRT-GO, mas a notícia não se traduziu em sorrisos ou euforia. “Às vezes, uma conquista é só uma notícia. A felicidade existe, mesmo que eu não demonstre do jeito que os outros esperam”, resume.
Pereira com a esposa Maria Núbia e a filha Isadora
O diagnóstico de autismo, confirmado em 2020 após acompanhamento multidisciplinar, foi vivido como “uma explicação e uma libertação”. Desde então, ele passou a compreender seus padrões sensoriais e a lidar melhor com as próprias necessidades, do incômodo com acessórios à preferência por rotinas estáveis. Apesar das conquistas, no entanto, Pereira reconhece que o preconceito ainda é um obstáculo. Lembrou de comentários de colegas do passado que diziam que “autista é tudo doido” e que não seriam confiáveis para portar arma, falas que revelam o desconhecimento sobre o espectro. No entanto, prefere responder com reflexão: “Será possível que a pessoa não consegue entender que o diferente é o nosso normal? A gente não vive numa sociedade igual. A diferença é que faz a gente ser bonito”.
Desde a infância, quando um atropelamento aos seis anos resultou em uma deficiência física em uma das pernas, Andressa Dayrell aprendeu a conviver com as adaptações que a vida lhe impôs. “Acredito que a deficiência moldou meu caráter, fortaleceu minha determinação e me impulsionou a alçar voos cada vez mais altos. A minha trajetória profissional e pessoal é intrinsecamente ligada à resiliência e à busca incessante por superação”, afirmou a servidora. Ela reconhece que sua deficiência física exigiu adaptações, mas também trouxe aprendizados valiosos. “A deficiência física, ao demandar adaptações contínuas, reconfigurou minha rotina e a forma de interagir com o mundo”, relatou ao explicar que essa reconfiguração não resultou em limitações, mas em um estímulo para desenvolver estratégias criativas e eficientes na sua rotina.
Andressa ingressou no serviço público aos 18 anos e aos 22 tomou posse como servidora no TRT de Goiás. Ela já assumiu o posto de diretora da 3ª Vara do Trabalho de Anápolis, da 10ª Vara do Trabalho de Goiânia e atualmente é diretora da Vara do Trabalho de São Luís de Montes Belos, unidade que este ano recebeu o Prêmio TRT-18 de Qualidade na categoria máxima: Excelência. “Embora a deficiência física tenha apresentado desafios ao longo da minha vida pessoal, o mesmo não ocorreu no campo profissional. O ambiente de trabalho, notadamente no TRT-18, me ofereceu um espaço de acolhimento e desenvolvimento”, afirmou ao mencionar que no tribunal recebeu o suporte necessário para o desempenho de suas funções sem que houvesse desconfiança quanto a sua capacidade.
Andressa com o filho Lucas e o marido Júlio César
A servidora acredita que é preciso avançar continuamente em acessibilidade, tanto física quanto digital e atitudinal, para que todos os servidores e magistrados possam exercer seu potencial plenamente e tenham as mesmas oportunidades de participar, de contribuir e de serem reconhecidos. “Neste Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, minha mensagem é de esperança. Que todos possamos reconhecer a força que reside em nossa diversidade e na nossa capacidade de superar. Que a sociedade promova ambientes verdadeiramente inclusivos, onde as deficiências sejam vistas não como limitações, mas como diferentes formas de ser e de contribuir para um mundo mais justo e equitativo. Acreditem em seu potencial, persistam em seus sonhos e saibam que a superação é uma jornada que pode nos levar a lugares extraordinários”, afirmou.
Para a juíza Eunice Fernandes de Castro, coordenadora do Subcomitê de Acessibilidade e Inclusão do TRT-GO, transformar acessibilidade em política permanente é o grande desafio da instituição. “Acessibilidade não pode ser vista como resposta emergencial, mas como compromisso institucional de longo prazo, com planejamento, orçamento, metas e monitoramento constantes”, afirma.
O subcomitê atua para eliminar barreiras físicas, digitais, comunicacionais e atitudinais, assegurando que magistrados, servidores, estagiários e jurisdicionados com deficiência tenham pleno acesso às estruturas e serviços da Justiça do Trabalho. Eunice Castro explicou que, além de promover adequações arquitetônicas, sinalização inclusiva e capacitação contínua, o subcomitê tem o hábito de ouvir regularmente as pessoas com deficiência, garantindo que suas necessidades orientem as decisões.
A magistrada ainda comentou que o capacitismo, que é o preconceito ou discriminação com a pessoa com deficiência, bem como a desvalidação das deficiências invisíveis e a falta de preparo institucional são desafios que precisam ser enfrentados por todos. “A acessibilidade não é uma pauta apenas de quem vive a deficiência, mas um dever coletivo. Inclusão só se faz de forma genuína quando todos se envolvem”, ressalta. Para ela, o compromisso do TRT-GO é claro: transformar a cultura institucional para que a acessibilidade seja entendida não como um favor ou ajuste eventual, mas como um direito fundamental e um dever permanente.
LN/AF/WF/JA
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