


A Escola Judicial, no ensejo de registrar a história da Justiça do Trabalho no Estado de Goiás, entrevistou no dia 24 de agosto o servidor Geraldo Cézar da Silva. Em um bate-papo de pouco mais de duas horas com a chefe do Centro de Memória Ariony Chaves de Castro, o servidor que acabou de se aposentar narrou sua trajetória pessoal e profissional.
Cézar, como prefere ser chamado, é natural da cidade de Bocaiúva, norte de Minas Gerais. De origem rural, estudava na cidade e, nos finais de semana e férias, ia juntamente com seus irmãos para uma fazenda da família. Ali, todos eram obrigados a ajudar nas atividades inerentes à propriedade rural, claro, de acordo com a força física de cada um. Geraldo Cézar prendia bezerros, guiava carros de boi, tocava bois de engenho para produção de cachaça e rapadura, alimentava os porcos e também ajudava a cuidar das hortaliças. Apesar de tantos afazeres, teve uma infância feliz, sobrava tempo para montar a cavalo, caçar passarinhos, jogar bola e tomar banho no rio. É o décimo primeiro na ordem de 12 irmãos, lamenta que nem todos tiveram a oportunidade de estudar, precisavam auxiliar de forma efetiva o seu pai nas tarefas do campo, privando-se de conquistas expressivas no mercado de trabalho.
Desde os seus 8 anos, Geraldo Cézar, no intuito de auxiliar na subsistência de sua enorme família, trabalhava vendendo tudo que era produzido na fazenda. E para ganhar seu próprio dinheiro, foi engraxate, auxiliar de sapateiro, entregador e balconista de supermercado. Teve sua carteira de trabalho assinada aos 15 anos de idade, aos 17 anos mudou-se para Brasília, ali estudava e trabalhava em empresas terceirizadas. Prestou serviços na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Ministério da Fazenda, como balconista, garçom e chefe de garçom. Sonhava em seguir uma carreira militar. Por influência de um irmão que havia servido à Aeronáutica, alistou-se e serviu ao Exército Brasileiro, mas não passou disso. Foi aprovado no vestibular de Economia na Faculdade Católica de Brasília, o qual cursou por 3 anos e meio.
Em 1984, foi aprovado em concurso público pelo Tribunal Superior do Trabalho e, no mesmo ano, tomou posse no quadro de pessoal do TRT da 10ª Região. Trabalhou por 3 anos como Assistente de Diretor na 3ª Junta de Conciliação e Julgamento de Brasília, até ser convidado pelo então Juiz-Presidente da referida Junta à época, Platon Teixeira de Azevedo Filho, para assumir a Diretoria da JCJ de Rio Verde, instalada em novembro de 1987. Sentindo a necessidade de aperfeiçoar seus conhecimentos jurídicos para melhor desempenho de sua nova função, logo que chegou em Rio Verde trocou o curso de Economia pelo de Direito.
A história do servidor Geraldo Cézar da Silva quase se confunde com a própria história da 1ª VT de Rio Verde. Foi seu Diretor desde a sua instalação até agosto de 2012. Teve breves passagens pelas Varas de Quirinópolis, 2ª Vara de Rio de Verde; 2ª Vara de Itumbiara; Vara do Trabalho de Inhumas; novamente 2ª Vara do Trabalho de Rio Verde. Retornou à 1ª Vara do Trabalho de Rio Verde em agosto de 2014, até a concessão de sua aposentadoria voluntária por tempo de serviço, ocorrida em agosto de 2015.
Em seus depoimentos Geraldo Cézar relatou sobre diversos assuntos que vivenciou ao longo de sua trajetória: a instalação do TRT da 18ª Região e sua expansão, recorda-se que, ao chegar em Rio Verde, logo tomou conhecimento do projeto de criação de um Tribunal em Goiás, tendo como seu mentor o Juiz aposentado Enio Galarça Lima.
Segundo Cézar, a sociedade rio-verdense recebeu com euforia a instalação do Tribunal, por entender que junto viriam muitos benefícios, a redução da distância da sede, o que facilitaria o acompanhamento de recursos pelos advogados, a possibilidade de instalação de novas Varas e, com isso, a ampliação do número de Faculdades de Direito, em virtude do iminente e considerável interesse de se militar na nova Especializada.
Quando iniciou sua jornada em Rio Verde, ainda sob a jurisdição do TRT da 10ª Região, havia uma precariedade enorme quanto ao funcionamento da antiga 1ª JCJ. A logística deixava muito a desejar: sequer existia uma fotocopiadora nas dependências da unidade, havia apenas máquinas manuais e reduzido material de expediente e de consumo. A sede funcionava numa casa residencial antiga localizada no centro da cidade, cujo aluguel inicialmente era financiado pelos antigos Vogais, posteriormente Juízes Classistas. Havia poucos servidores em seu quadro de lotação. Em sua maioria cedidos pela prefeitura local e com restrito conhecimento processual, não tendo faltado neles, porém, voluntariedade e dedicação, muitas vezes os serviços de limpeza, eletricidade e outras manutenções eram feitos pelos próprios servidores.
Hoje a realidade é outra “vivemos numa modernidade extrema em comparação ao início do Tribunal. Tivemos vários concursos públicos ao longo do tempo, melhorou sobremaneira as condições de trabalho, a qualificação do pessoal, os equipamentos de informática, o mobiliário, etc. O processo digital é uma realidade em praticamente todas as Varas do Trabalho, situação que gera uma imensa facilidade e economia a todos os personagens do Tribunal, magistrados, servidores, advogados, peritos e jurisdicionados.
Todavia, não obstante a todo esse desenvolvimento, referidas Varas continuam com mesmo quadro de pessoal, aquém do número de servidores necessários para atender a grande demanda e uma prestação jurisdicional mais célere e eficaz. Nesse aspecto, peca o Tribunal e os órgãos superiores (especialmente o CSJT) que definem o quadro de lotação, esquecendo tais gestores, que é nas Varas do Trabalho que se inicia toda a atividade jurisdicional prestada à população”.
Foram 31 anos de Justiça do Trabalho, a sua trajetória se deu sempre no interior do Estado, 28 anos só em Rio Verde, muito trabalho e dedicação, tinha apenas hora para entrar no trabalho, não tinha horário para sair. “O segredo do sucesso é fazer de sua vocação sua distração”, resumiu. Cézar diz amar esse Regional como se seu filho fosse, o viu nascer e expandir-se. Sempre gostou do que fez, procurou fazer da melhor forma possível, missão cumprida, mãos lavadas, entrega feita. “Existem dois tipos de felicidade: a do bem exercido e a do dever cumprido”… e é nesse clima que se despede do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região. De agora em diante, seu dever é consigo mesmo, com a família e os amigos.
Num momento de muita emoção, Geraldo Cézar deixou registrado agradecimentos à Administração do TRT pela possibilidade de crescimento pessoal, valorização profissional, externou profunda gratidão aos Juízes com quem trabalhou, em especial aos colegas servidores, estagiários e adolescentes trabalhadores e prestadores de serviços, “sem a disposição e o espírito de colaboração dos colegas, a compreensão dos advogados, certamente não teria conseguido desempenhar por tantos anos, as estafantes e complexas atribuições inerentes ao cargo de Diretor de Secretaria.”
Texto: Ariony Chaves de Castro – Centro de Memória
Ficou em dúvida quanto ao significado de algum termo jurídico usado nessa matéria?
Consulte o dicionário jurídico.
Esta matéria tem cunho meramente informativo, sem caráter oficial.
Permitida a reprodução mediante citação da fonte.
Coordenadoria de Comunicação Social
Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região
comunicacao@trt18.jus.br