Em meio aos corredores do TRT-GO, há mais do que processos e prazos: há histórias de vida que são exemplos a serem seguidos no campo profissional e, acima de tudo, humano. Uma delas é a da nossa personagem de hoje na série “Mulheres na Liderança: Histórias que Inspiram”. Conheça Geisa Azevedo Carlos Campelo, atual secretária-geral judiciária adjunta, uma servidora muito querida por todos no TRT-GO e que construiu uma trajetória marcada por coragem, fé e muitos recomeços.
Nascida em Ponte Alta do Bom Jesus, no antigo norte goiano — hoje Tocantins —, Geisa cresceu em uma realidade com carências materiais, mas abundância afetiva. Na sua cidade ainda não tinha energia elétrica, nem televisão. Mas seus pais já entendiam que a educação era a porta para o mundo e isso foi o pontapé inicial para uma linda história de vida.
Um pai à frente de seu tempo
Aos 14 anos, Geisa mudou-se do interior para Goiânia com os irmãos para estudar. Ela lembra que foi seu pai, já à frente de seu tempo, quem insistiu para que ela pudesse ter as mesmas oportunidades que seus irmãos. “Pela minha mãe, eu teria seguido o caminho do magistério, como era comum para as mulheres da época. Mas meu pai foi mais moderno nesse sentido, para ele, se os meninos iriam pra capital, a filha também deveria ir. Essa sabedoria dele foi fundamental para o meu crescimento”, conta, orgulhosa.
A adaptação à vida da cidade grande não foi fácil, mas a dedicação aos estudos e o comprometimento com suas responsabilidades sempre falaram mais alto. Geisa cursou Direito, trabalhou no Banco do Brasil, foi aprovada no concurso do TRE e, mais tarde, passou a atuar no TRT de Goiás, onde permanece há mais de três décadas.

Geisa é mãe de Pedro Henrique, Igor, Lara e mãe de coração de Hugo, seu enteado. Na foto ela aparece rodeada da família que ela faz questão de reunir aos finais de semana até hoje
Recalculando rotas
Ao longo da sua vida, enfrentou desafios pessoais e profissionais e por muitas vezes se viu obrigada a refazer seus planos. Um desses momentos marcantes ocorreu quando seu pai adoeceu. Ela estava no início da faculdade e precisou trancar o curso e voltar para o interior para ajudar a mãe, até que seu pai superasse um diagnóstico de câncer.
Anos mais tarde, mais um grande desafio bateu à sua porta: o fim do seu casamento de quase 20 anos. Geisa reconheceu que vivia um relacionamento infeliz, encarou as dificuldades do término e voltou para Goiânia com os filhos para recomeçar. Nessa época morava na cidade de São Luís dos Montes Belos.
“Não foi fácil, meus filhos eram pequenos, um deles adolescente, mas fiz tudo pensando no melhor para todos. Sempre fui mãe e pai. Nunca deixei de ir às reuniões da escola, aos médicos, levar às festinhas. Sempre me desdobrei”, diz com a certeza de que a escolha foi acertada.
Quando lhe faltou o ar

Geisa venceu a Covid-19 em 2021, e em 2022 fez uma das rotas do Caminho de Santiago na Espanha, percorrendo 170 km em 6 dias
Geisa seguia seu desenvolvimento profissional e pessoal, sem imaginar que mais uma prova de fogo estaria por vir. Em 2021, Geisa viveu um dos períodos mais difíceis de sua vida: contrair Covid-19 e ficar por 26 dias na UTI. Com mais de 90% do pulmão comprometido, o processo de recuperação foi longo e lento. Depois da alta hospitalar, precisou de fisioterapia com oxigênio em casa e ficou afastada do trabalho por quase seis meses. “Foi quando deixei de ser mãe para ser cuidada pelos meus filhos. Minha filha assumiu o papel de cuidadora. Todos amadureceram naquele processo”, relembra emocionada.
Durante a internação, recebeu uma onda de apoio dos colegas do Tribunal. “Muita gente orava por mim nas madrugadas. Isso me mostrou o quanto sou amada aqui. Essas orações me lembraram que ainda tenho uma missão nesta vida.”
Como sempre fez, Geisa deu a volta por cima. Apaixonada por corrida, retomou os treinos mesmo com sequelas pulmonares. “A corrida me devolveu o fôlego da alma”, afirma. O esporte, para ela, é vida e superação. Ela também participou do Pedal Seguro, promovido pelo TRT, e enfrentou quase 50 km de bicicleta — mesmo sem experiência ou equipamento adequado. “Aprendi a usar as marchas no caminho”, conta, aos risos, ao apontar que nada tira sua vontade de se desafiar e viver momentos felizes entre amigos.

Geisa é filha de Argy Carlos e Enecy Azevedo. Sr. Argy, completando 90 anos na imagem, sempre foi preocupado em ofertar as mesmas oportunidades de estudo aos filhos, homens e mulheres
Ela não para
Além de mãe dedicada e profissional exemplar, é coordenadora regional do movimento das Mães Mônicas em Goiás — um grupo agostiniano que promove encontros espirituais entre mães que rezam umas pelas outras. Foi síndica em seu condomínio durante uma grande reforma, liderando ações de convivência, espiritualidade e sustentabilidade. E coleciona participações em provas de corrida por todo o Brasil.
Recentemente, percorreu 170 km em seis dias fazendo uma das rotas do Caminho de Santiago, na Espanha, e visitou locais como Fátima e Roma. “Essa jornada foi transformadora em todos os sentidos”, afirma.
Mesmo às vésperas da aposentadoria, segue investindo em conhecimento: fez cursos em Justiça Restaurativa, encantou-se com a mediação e sonha com um mestrado em Direito Canônico. “Acredito que podemos sempre aprender mais.”
O espaço das mulheres
Geisa testemunhou, ao longo das décadas, as transformações no espaço da mulher nos tribunais. “Hoje vemos mais mulheres em cargos administrativos, mas ainda enfrentamos sobrecargas imensas. Muitas vezes sem apoio dos parceiros, acumulamos funções e precisamos nos desdobrar para crescer profissionalmente.”
Essa lucidez se entrelaça à forma como é vista pelas colegas: exemplo de garra, serenidade e entrega. “Quando me perguntam como dei conta de tudo, eu respondo: não sei. Mas a gente consegue. Somos feitas da capacidade de nos doar — e de seguir em frente. Da capacidade de recomeçar, quantas vezes forem necessárias”, conclui feliz.
Essa foi a nossa história de hoje. Mais uma mulher inspiradora para a gente ter como exemplo no trabalho e na vida. Te vejo na próxima matéria.
Jackelyne Alarcão
Imprensa – Comunicação Social TRT/GO
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