O caminho das mulheres na liderança, tanto no setor público quanto privado, é cheio de desafios. Mas com apoio, oportunidades e determinação, é possível “furar” essa bolha e alcançar postos de liderança e gestão com muita competência. Para dar visibilidade ao trabalho e valorizar as mulheres gestoras que compõem nosso Tribunal, iniciaremos hoje uma série de entrevistas com mulheres que são exemplos de trabalho e gestão no TRT de Goiás.
Se você que está lendo essa matéria é mulher, inspire-se nos exemplos que traremos aqui. E se você, leitor, é homem, convidamos você a refletir sobre a realidade que nossas mulheres lhe trarão nessa e nas próximas publicações. Agora, independentemente de gênero, contamos com a sua sensibilidade e com o seu olhar diferenciado para identificar, incentivar e viabilizar o reconhecimento e o desenvolvimento dos nossos talentos femininos.
O nome dela é Leila, palavra que tem origem árabe e significa “noite” ou “escuridão”. Mas, ao contrário do significado do seu nome, a “nossa” Leila é pura luz. À frente de uma das principais portas da nossa justiça, o Centro Judiciário de Métodos Consensuais de Solução de Disputas (Cejusc) de Goiânia, desde 2016, Leila Alves Barbosa, é uma referência dentro da instituição. E se você já admirava sua trajetória profissional, espere até conhecer um pouquinho da sua história de vida.

A família é a base de tudo para Leila. Na foto ela segura o netinho Pedro e está ao lado de sua mãe, D. Clarice e sua filha, Lidiane.
Aos 20 anos, Leila se tornou mãe solo. Com poucos recursos e pouca escolaridade, ela conciliava o trabalho com os cuidados da filha, Lidiane. Com os olhos marejados, Leila relembra um pouco da sua vida. Natural de Inhumas, interior de Goiás, é filha de Clarice, costureira e mulher forte. Sempre estudou em escola pública e concluiu o ensino médio já adulta, fazendo supletivo. “Quando engravidei, jovem, foi um momento muito difícil. Eu sabia que precisava crescer, estudar e construir um futuro melhor, mas sozinha era quase impossível”, lembra.
Foi então que o apoio de pessoas especiais fez toda a diferença na vida de Leila. Além de seus pais, especialmente sua mãe, que esteve ao seu lado incondicionalmente, ajudando-a a cuidar da filha para que ela pudesse trabalhar e estudar, Leila contou com a ajuda de sua melhor amiga que a incentivou a buscar novos caminhos, como também proporcionou essa mudança financiando seus estudos na preparação para o concurso público. Esse foi o primeiro passo de Leila rumo a uma nova realidade. “Era outro mundo, eu não tinha referência nenhuma de estudo. E aí, por causa disso, minha amiga me dava aulas à noite e aos finais de semana”, relembra com gratidão. “Minha mãe foi meu porto seguro. E minha amiga, um anjo na minha vida. E se não fosse por elas, talvez, eu não teria conseguido.”
Leila conta que foi aprovada em 18º lugar no TRE-GO e ali trabalhou até 2003, quando, a convite do juiz Renato Hiendlmayer, veio cedida para este Tribunal para ocupar um claro na 4ª Vara do Trabalho de Goiânia. Em 2014, foi oficialmente redistribuída. “Nos meus registros profissionais estou no TRT-GO desde 2014, mas trabalho aqui desde 2003”, conta com orgulho.

O juiz do trabalho Israel Brasil Adourian foi o gestor que primeiro reconheceu a habilidade de Leila para lidar com conciliação nos processos.
Leila trabalhou vinculada à Vara do Trabalho de 2003 até 2016, sendo dois anos como conciliadora. Ela conta que começou exercendo as atividades de secretaria, depois passou a ser secretária de audiências, quando seu gestor observou sua vocação para a conciliação. “Como eu participava das audiências de instrução com o juiz, eu me envolvia na história das pessoas e comecei a dar sugestões. O juiz titular, Israel Adourian, percebeu que eu gostava e tinha dom para lidar com pessoas e ajudar na solução dos processos. Eu tive a sorte de ter um gestor que acreditou em mim e me deu oportunidade. Esse reconhecimento me deu forças para seguir em frente e enfrentar o desafio de ser conciliadora e anos depois assumir a direção do Cejusc de Goiânia”, ressalta Leila ao destacar como foi importante o olhar do gestor.
Para Leila, um dos maiores desafios é a dupla jornada, equilibrando o trabalho com as responsabilidades familiares. “Muitas mulheres são excelentes profissionais, mas a carga de trabalho em casa e a responsabilidade de assumir, em muitos casos, sozinha, a criação dos filhos pesam muito. Às vezes, não tentam crescer por acreditarem que não vão conseguir dar conta de tudo”, diz.
Outro ponto importante que Leila destaca no caminho das mulheres é a necessidade constante de provar sua competência, o que torna o caminho mais desafiador. “Acabamos duvidando da nossa capacidade. Eu mesma, no começo, não acreditava que poderia liderar uma equipe. Mas quando as pessoas certas acreditam em você, tudo muda”.

Sempre com sorriso no rosto, Leila segue superando os desafios e inspirando outras mulheres ao seu redor.
A diretora do Cejusc de Goiânia acredita que, para que mais mulheres ocupem cargos de liderança, é fundamental que o Tribunal incentive a qualificação, o reconhecimento e também ofereça oportunidades. “Penso que, como instituição, precisamos reconhecer a capacidade das pessoas, reforçar seus pontos fortes e dar uma chance para florescer no lugar certo. Precisam de oportunidade! Às vezes, a estrelinha está lá, sem brilho, mas se você der um espaço, ela pode brilhar e levar o Tribunal junto”, observa.
Leila lembrou um episódio em que uma servidora de sua equipe (que hoje somam 22 pessoas sob sua liderança) foi convidada para ser subdiretora em uma Vara do Trabalho. Ela disse que, no primeiro momento, sua reação foi pensar no “desfalque” do time, porém, logo entendeu que seria uma excelente oportunidade para um de seus “filhos”, como ela mesma chama os servidores que trabalham com ela.
“Eu fiz questão de dizer à servidora: você é super capacitada! Eu não posso e não vou tolhê-la. Você é uma pessoa organizada, competente, tem todas as qualidades para assumir esse cargo. Então, esteja livre para dar esse passo se achar importante a mudança nesse momento”, lembra.
Para Leila, as mulheres eram criadas, de modo geral, a não acreditar em sua capacidade. No entanto, ela acredita que é fundamental que as mulheres se apoiem mutuamente e reconheçam o valor umas das outras. “Ficamos tão envolvidas na nossa vida, na solução dos nossos “incêndios” diários, dos nossos problemas, que muitas vezes esquecemos que somos importantes e competentes. Você me fez interromper essa correria ao dizer: ‘Quero entrevistá-la porque você é uma unanimidade, você é importante!’. Ouvindo isso, pensei: ‘Que mensagem maravilhosa de se receber!’. E então desejei que outras mulheres também tivessem essa oportunidade de se sentirem valorizadas como eu”, afirma.
Perguntada sobre a forma como seu olhar feminino influencia sua gestão, Leila entende que, além desse olhar de incentivo, ela busca uma gestão baseada no sentimento de família e participativa. “Meus meninos, eu falo exatamente isso, meus meninos. Quero mostrar para eles que o nosso trabalho é bom, gratificante, que tem um propósito e que devemos prestar um serviço de qualidade como equipe. Busco proporcionar a eles um ambiente de trabalho acolhedor, no qual a harmonia e a amizade sejam valorizadas”, destaca. “Quando vou mudar alguma regra ou procedimento, por exemplo, pergunto o que eles pensam. Peço a participação de todos na minha gestão. Penso que isso também é um diferencial. É uma gestão compartilhada”, conclui.
Hoje, Leila se sente realizada tanto pessoal quanto profissionalmente. Fala com muito orgulho de sua filha, Lidiane, e de seu neto, Pedro, de 8 meses. Ela continua em busca de aperfeiçoamento. Formada em Direito, com pós-graduação em Tutela do Meio Ambiente do Trabalho e Saúde do Trabalhador e especialização em Gestão Pública, ela acredita que a mulher deve ser vista com credibilidade e ter a competência reconhecida.
Leila é um exemplo de liderança, dedicação e superação. Sua história, repleta de desafios, é uma fonte de inspiração para todos nós. E há muitas outras histórias de mulheres incríveis para compartilhar. Acompanhe nossas próximas publicações.
Jackelyne Alarcão
Imprensa – Coordenadoria de Comunicação do TRT-GO
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