Palestra com o escritor e poeta Fabrício Carpinejar encerra 2ª Semana Jurídica no TRT-GO

Publicado em: 12/09/2025
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Três homens de terno estão sentados em poltronas pretas sobre um tapete no palco de um auditório. O homem do centro está segurando um microfone.

Juiz Celso Moredo, desembargador Platon Filho e jurista Tullo Cavallazzi Filho encerraram a parte jurídica da programação do último dia da 2ª Semana Jurídica

A 2ª Semana Jurídica do Tribunal Regional do Trabalho de Goiás chegou ao fim nesta sexta-feira (12/9), após três dias de intensos debates sobre os rumos do Direito e do Processo do Trabalho. O evento, promovido pela Escola Judicial do TRT-GO (Ejud 18), foi realizado no auditório Villa Boa, no Fórum Trabalhista de Goiânia, e reuniu magistrados, servidores, juristas, advogados e estudantes. O poeta e escritor Fabrício Carpinejar encerrou a semana falando sobre a inovação pelo afeto. Antes dele, o juiz do TRT-GO Celso Moredo e o jurista e advogado Tullo Cavallazzi Filho participaram do primeiro painel da manhã. O presidente da mesa do último dia da Semana Jurídica foi o desembargador Platon Teixeira de Azevedo Filho. 

Direito do Trabalho e prática esportiva de crianças e adolescentes

Um homem sorridente de terno está em pé atrás de um púlpito de acrílico em um palco.

Juiz Celso Moredo

Na primeira palestra da manhã, o juiz Celso Moredo abordou o tema “Crianças e adolescentes no esporte de formação e sua interação com o Direito do Trabalho”.
Ele chamou a atenção para a distância entre o que prevê a Constituição e a realidade vivida por jovens atletas. “Apesar de a Constituição, no seu artigo 217, dizer que o esporte é um direito de todos, com destinação de recursos prioritários para o desporto educacional, isso não vem sendo cumprido. Na verdade, o Estado dá uma preferência ao desporto de alto rendimento”, criticou ao ressaltar que essa escolha resulta na “privatização” do acesso ao esporte, restrito a escolinhas pagas, enquanto projetos sociais, ainda insuficientes, se tornam a principal alternativa para crianças e adolescentes de baixa renda.

Moredo também destacou que pais percorrem o Brasil para acompanhar os filhos em busca de oportunidades no futebol, muitas vezes vistas como a única esperança de ascensão social da família; no entanto, apenas 1% dos jovens das categorias de base chega ao profissionalismo. Para ele, o valor maior da prática esportiva está na formação cidadã, no aprendizado de disciplina e sociabilidade, além do afastamento de riscos como drogas, violência e sedentarismo. Ele alertou, entretanto, para os desafios e vulnerabilidades do processo, que vão desde a pressão excessiva das famílias e abusos sofridos por atletas mirins até situações de exploração ou desvirtuamento da formação, que podem gerar implicações trabalhistas a serem analisadas pela Justiça do Trabalho.

A legislação mais recente também foi tema da palestra. Moredo ressaltou que a Lei Geral do Esporte de 2023 passou a disciplinar etapas da formação esportiva antes da profissionalização, estabelecendo direitos, limites e regras para garantir maior proteção a crianças e adolescentes. Entre os pontos centrais, destacou o contrato de formação esportiva, válido dos 14 aos 20 anos, que não gera vínculo empregatício, mas assegura garantias básicas aos atletas e equilíbrio entre clubes. “É preciso ponderar princípios constitucionais e garantir a proteção integral da criança e do adolescente, sem perder de vista o papel integrador do esporte, que tem o poder de mudar o mundo”, encerrou o juiz, ao citar Nelson Mandela.

Cooperação judiciária e os rumos da SAF no Brasil

Um homem de terno está sentado em uma poltrona, segurando um microfone e gesticulando com a mão direita, enquanto olha para a câmera.

Tullo Cavallazzi Filho

A segunda palestra do dia foi apresentada pelo jurista Tullo Cavallazzi Filho, que trouxe para o debate o tema “Aspectos relevantes da reunião de execuções de clubes de futebol: Lei da SAF e Cooperação Judiciária”. Ao abrir a palestra, o jurista destacou a importância do futebol sob a ótica social e econômica e lembrou que o direito desportivo deixou de se restringir a questões disciplinares de atletas e passou a abranger áreas como direito societário, tributário e do entretenimento, tornando-se um campo de atuação especializado e em expansão. Ele ressaltou ainda que o ecossistema esportivo envolve diversas fontes de receita, o que demonstra sua importância “para além das quatro linhas”.

Tullo Cavallazzi Filho enfatizou o protagonismo da Justiça do Trabalho na criação do regime concentrado de execuções, que serviu de base para a Lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). “A Justiça do Trabalho puxou a fila, foi a que mais se envolveu com o tema e ela traz hoje, basicamente, a linha mestra da nova lei do marco regulatório do futebol brasileiro”, afirmou. 

Ele também destacou que os clubes acumulavam dívidas bilionárias, em sua maioria ligadas a folhas salariais, resultado de uma gestão historicamente amadora. “Sempre com o coração, mas com pouca proximidade de gestão, o que levou à formação de passivos milionários”, pontuou. Para Cavallazzi, a transformação em SAF abriu caminho para novos investimentos e garantias de pagamento sem inviabilizar os clubes. O jurista reforçou que o regime concentrado de execuções só pode ser aplicado aos clubes que optarem pela constituição em SAF, não sendo possível às associações civis, e ainda ressaltou a necessidade de cooperação entre Justiça Comum e Justiça do Trabalho para a efetividade da lei. “Mais de cem clubes já aderiram ao modelo em apenas quatro anos, o que demonstra que “a lei pegou” e marca um avanço na profissionalização do futebol brasileiro”, concluiu.

Fabrício Carpinejar encerra com palestra sobre presença e relações humanas

Um homem com barba, óculos escuros e terno marrom está em pé, no meio de um auditório, gesticulando enquanto conversa com a plateia.

Fabrício Carpinejar preferiu descer do palco e caminhar em meio ao público para ter mais proximidade e interação com os participantes

O escritor, jornalista, poeta, ator e influenciador digital Fabrício Carpinejar encerrou o ciclo de palestras da 2ª Semana Jurídica do TRT-GO. Em uma palestra marcada por reflexões sobre as relações humanas, o tempo e a importância da presença, Carpinejar usou memórias pessoais e histórias para provocar e também emocionar o público.

Logo no início, contou que na infância sonhava em ser invisível. Relatou uma experiência em que tentou se “tornar invisível” diante do poeta Mário Quintana e de seu pai, o também poeta Carlos Nejar. A lembrança serviu de metáfora para introduzir um de seus principais pontos: “Nós temos uma missão na vida. Não deixar ninguém invisível ao nosso lado”, afirmou.

O jornalista criticou a pressa cotidiana e a dificuldade de estar presente nas relações. “A pressa elimina as delicadezas da vida. Se você tem pressa, você não enxerga quem está ao lado, nem a si mesmo”, afirmou. Para ele, a velocidade imposta pela rotina moderna impacta a memória, a capacidade de sentir saudade e até os vínculos afetivos: “Se você não olhou nos olhos, não ouviu o que a pessoa queria dizer, não esteve presente, você não leva nada da relação, você não sofre. Você apenas substitui pessoas.”

Ser forte

O palestrante abordou o peso de certos elogios comuns no ambiente de trabalho e na vida cotidiana. Para ele, expressões como “você é forte” não representam reconhecimento, mas exploração, já que costumam aparecer quando alguém assume funções além do previsto ou cobre tarefas de outros. Carpinejar ressaltou que quem é visto como forte perde espaço para compartilhar angústias e acaba sobrecarregado. “Quem é forte também adoece, quebra e sucumbe. É a sensibilidade que nos protege”, argumentou. Ele também destacou a importância de aprender a dizer “não”, lembrando que a recusa pode fortalecer a sinceridade e o respeito nas relações.

Outro ponto levantado foi o uso da expressão “meu braço direito” no ambiente de trabalho, por exemplo. Segundo Carpinejar, essa declaração reduz a identidade da pessoa a uma função de apoio: “Quando você diz isso, está afirmando que o outro só tem valor ao seu lado.”

Família

Um homem com óculos escuros e terno marrom está em pé, à frente de um grupo de pessoas sentadas em um auditório, e gesticula enquanto fala.

Carpinejar provocou reflexões no público ao mesmo tempo em que emocionou os participantes do evento com suas palavras. “É importante fazer o outro se sentir importante”

Carpinejar também compartilhou histórias de sua família para abordar a importância das origens e do cuidado com os pais. Disse que demorou a perceber que não conhecia aspectos básicos da vida de seu pai, como preferências e lembranças de infância, e alertou: “Talvez quem está ao nosso lado seja a pessoa menos vista por nós.”

Em outro momento, destacou o valor dos pequenos gestos e da simplicidade. “A felicidade é um filme de baixo orçamento. A gente não precisa de muito para ser feliz”, disse, lembrando que o prato favorito da maioria das pessoas, entre tantas opções sofisticadas, continua sendo a comida de infância, ligada à memória afetiva.

Carpinejar ainda falou sobre o que ele chama de “moedas da existência”: os minutos simples compartilhados com quem se ama. “Se você não tem uma hora para visitar um familiar, você não vai. Mas sempre temos 15 ou 20 minutos. No fim da vida essas moedas serão a fortuna da saudade”, concluiu.

Alzheimer Digital

Carpinejar também abordou a relação de dependência das pessoas com o celular, que, segundo ele, tem enfraquecido a memória cotidiana. O escritor chamou o fenômeno de “Alzheimer Digital”, explicando que, ao confiar às tecnologias lembranças como datas, contatos e compromissos, muitos deixam de exercitar a própria memória. “Se você não tem memória, não terá saudade, já que a memória é a fábrica de saudade”, frisou.

Presidente do TRT-GO, desembargador Eugênio Cesário, servidoras Keyla Monteiro e Márcia Bueno, o palestrante Fabrício Carpinejar, a diretora da Ejud 18, desembargadora Rosa Nair Reis, o coordenador pedagógico da Ejud 18, juiz Kleber Waki, e a servidora Adnólia Aires

Ao encerrar, o jornalista pediu desculpas ao presidente do TRT-GO, desembargador Eugênio Cesário, por ter transformado a palestra em um “velório”, disse brincando, ao notar pessoas emocionadas e chorando na plateia. “Mas é um velório para a pessoa renascer”, emendou. Em seguida, disse que a profissão que gostaria de ter, para a qual não há curso, é a de “abraçadeiro”, pois gosta de abraçar pessoas. Em seguida, ele se colocou à disposição do público para abraços, fotos e autógrafos de seus livros. 

Boa receptividade

A desembargadora Rosa Nair Reis, diretora da Ejud 18, fez um balanço positivo da 2ª Semana Jurídica e agradeceu aos elogios feitos pelos participantes ao longo do evento. A magistrada comentou que alguns palestrantes se colocaram à disposição para eventos futuros devido à receptividade e o interesse demonstrado pelo público. “Muito obrigada a todos os que participaram e contribuíram para o sucesso do evento”, destacou.

Veja mais fotos do evento, incluindo as da sessão de autógrafos de livros.

Assista às palestras jurídicas do último dia do evento. O vídeo com a palestra de Fabrício Carpinejar não será disponibilizado no Canal TRT Goiás no Youtube por questões contratuais.

JA/LN/TM/WF/JM

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