


O Tribunal Regional do Trabalho de Goiás (TRT-GO) promove sua primeira exposição em homenagem ao Dia da Consciência Negra, iniciativa que busca valorizar as heranças culturais negras e reforçar a identidade racial no ambiente institucional. A abertura do evento ocorreu na tarde de segunda-feira (4/11) e contou com uma roda de capoeira do Grupo Candeias, uma das principais manifestações da arte e cultura afrobrasileiras. A exposição Sou Negro(a) é composta por fotografias e histórias de cinco referências negras da nossa cultura, por uma série de telas dos artistas plásticos Ju e João, intitulada Ancestralidade Dourada, e por esculturas de Gilvan Cabral.
O coordenador do Subcomitê de Equidade e Diversidade, desembargador Marcelo Pedra, destacou a relevância da celebração do Dia da Consciência Negra como um momento de reflexão e aprendizado. “É um momento muito especial na vida do nosso tribunal e reflete o que está acontecendo na sociedade, que é esse despertar das pessoas para sua identidade racial, para valorização das nossas heranças culturais”. Ele mencionou que o número de pessoas que se reconhecem como racialmente negras ou pardas cresceu exponencialmente, “o que não significa que houve um aumento no nascimento de mais pessoas com essas características, mas sim o surgimento de uma nova consciência, uma nova visão, uma nova mentalidade”.
Marcelo Pedra falou sobre a atuação do subcomitê de equidade e diversidade do TRT-GO, um órgão comprometido com a promoção da diversidade, a defesa dos vulneráveis e a busca por um tratamento isonômico e acolhedor para todos. O desembargador agradeceu aos integrantes do subcomitê, destacando a pluralidade da composição, que permite que todos os servidores do tribunal estejam representados. “O propósito é que todas as pessoas sejam recebidas e tratadas com o máximo respeito e dignidade”.
O servidor Manoel Camelo, um dos integrantes do subcomitê de equidade e diversidade, falou sobre a exposição fotográfica de grandes personalidades negras do país. Ele contou que o tema da exposição, Sou Negro (a), teve como objetivo focar em personalidades importantes que foram embranquecidas ou esquecidas pela história do país. “Começamos pensando em Machado de Assis, que muita gente não sabe que foi embranquecido. Como ele é uma referência e um dos escritores mais importantes do Brasil, trazer a imagem de um Machado de Assis negro era uma ideia de muita potência”, explicou. Para ele, essa escolha busca reforçar a identidade brasileira e promover o orgulho da identidade negra, ressaltando a relevância de figuras históricas para o Brasil.
Embalados pelo berimbau, o atabaque, o pandeiro e o reco-reco, capoeiristas do Grupo Candeias encantaram servidores, magistrados e público ao jogar capoeira ao som de cantigas tradicionais. O mestre Xeréu, um dos pioneiros do grupo Candeias de Goiás, destacou a capoeira como uma forma poderosa de resistência cultural e combate ao preconceito racial, especialmente no Dia da Consciência Negra, que marca o falecimento do Zumbi dos Palmares, líder que lutou contra a escravidão. Ele contou que começou a praticar capoeira por incentivo da mãe e, com o tempo, a arte se tornou sua profissão, levando-o a ensinar em diversos países, incluindo Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e Irlanda. “A capoeira é uma resistência muito forte dos negros e dos brancos, que ajuda a combater todo esse preconceito racial que existe”, afirmou. Para Xeréu, eventos que celebram a cultura negra, como exposições artísticas, são fundamentais para fortalecer a capoeira e elevar essa manifestação cultural, ampliando seu reconhecimento e valorização.
Wilson Ferreira, mais conhecido na capoeira como ‘Negão’, pratica capoeira há seis anos e participou da apresentação ao lado do filho mais velho Ezequiel. Ele conta que começou ainda menino, em um projeto comunitário na Chácara do Governador, em Goiânia, mas precisou parar para trabalhar. Já adulto, começou a levar seus dois filhos para as aulas de capoeira com o professor Sabiá e, desde então, passou a treinar com os filhos. “A capoeira significa tudo. Ela tira o estresse do dia a dia e melhora minha vida em todos os aspectos. Foi uma das melhores coisas que fiz, ainda mais por trazer meus filhos para junto de mim”, afirmou. Para ele, a capoeira é mais do que um esporte; é uma herança cultural que os negros deixaram e que hoje serve para unir e aliviar o estresse de todos. “A gente nunca esquece. Está no sangue”, destacou.
O artista goiano Gilvan Cabral, cujas esculturas ressaltam a figura da mulher negra, falou sobre como escolhe os elementos para representar a cultura e a vivência da população negra em suas esculturas. “Minhas figuras são vivas, reais. Eu as vejo enquanto ando pela rua e as reproduzo”, explicou. Segundo ele, a base do material utilizado é a madeira, especialmente madeiras raras do Brasil, e os acabamentos são feitos com cobre, pedras semipreciosas e outros materiais. “Na minha escultura, tento mostrar a beleza e a grandeza, porque a figura do negro sempre foi retratada com dor e sofrimento. Eu quero mostrar o negro com alegria, vitória e valor, como reis e rainhas que alcançaram o topo dessa história”, ressaltou o artista, que tem 40 anos de carreira, sobre o objetivo da sua arte.
A dupla de artistas Ju e João são os responsáveis pela série Ancestralidade Dourada, telas feitas inteiramente com recortes e colagens manuais de materiais adesivos, técnica única dentro da Tape Art, como é conhecida fora do país. Os retalhos de adesivos são usados para criar telas abstratas, vivas e cheias de profundidade, com aspectos únicos. Ju ressaltou a importância da representatividade negra em exposições de arte e fotografia por fortalecer o movimento e trazer mais consciência para as pessoas. “Vivemos em um país que ainda enfrenta o preconceito, e sabemos que muitas coisas acontecem de forma velada. Acredito que esse tipo de movimento serve para mostrar à sociedade que o preconceito ainda existe e precisa ser combatido”, destacou.
Os artistas Ju e João compartilharam que suas vivências espirituais e raízes afrodescendentes foram fundamentais para a criação das obras. “Nós nos consideramos universalistas e temos raízes espirituais, especialmente voltadas às matrizes afrodescendentes. Isso nos levou a querer representar e valorizar essa herança nas nossas artes, mesmo não tendo um fenótipo negro”, afirmou João, que acredita que não só aqueles com traços fenotípicos negros têm o papel de desenvolver uma arte que fale sobre a beleza e força da população negra, mas que essa responsabilidade é de todos. “Em nossas obras, mostramos as mulheres negras como figuras de beleza, força e potência, destacando sua importância, que muitas vezes é ignorada na sociedade”, explicou João. Para eles, a escolha de elementos como o dourado espelhado, que reflete o observador, simboliza a ideia de que todos fazem parte dessa ancestralidade em que a mulher negra é a provedora, o pilar de força e resistência.
Uma das visitantes da mostra cultural, a bancária Ana Carolina Carvalho, destacou sua satisfação em prestigiar a exposição. “Achei tudo belíssimo. O prédio já é um lugar bonito que acomoda bem esse tipo de evento, e os quadros são lindíssimos. O uso de material inusitado, como adesivo, deixou tudo ainda mais interessante”. Ela conta que também ficou encantada com as esculturas e com a roda de capoeira do Grupo Candeias. “A capoeira traz uma alegria contagiante, e foi ótimo ver e ouvir o som. Foi uma tarde diferente e muito boa”, disse Ana, que é irmã da servidora Carla Cristina Carvalho, chefe da Seção de Cultura do TRT e uma das organizadoras da Mostra Artística Sou Negro (a).
Evento: Mostra Artística Sou Negro(a)
Horário de visitação: dias úteis, das 8 às 16h, de 4 a 30/11
Local: Espaço Congadas – Fórum Trabalhista, 1° andar, em frente ao Espaço Congadas Rua T-51, esq. c/ Av. T.1- St. Bueno
Confira a galeria de fotos do evento
LN/FV
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