
Mais do que processos, aqui se lida com vidas. E são pessoas que fazem isso acontecer. Ao longo dos 35 anos de sua instalação, o Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-GO) conta com o trabalho de uma equipe composta por magistrados, servidores, estagiários e terceirizados capacitados e dispostos a atender a sociedade goiana não apenas no julgamento de processos trabalhistas, mas também em ações e campanhas de impacto social.
Atualmente, o tribunal conta com um quadro que inclui 1.461 servidores, 100 magistrados, sendo 87 juízes de 1º grau e 13 desembargadores, 142 estagiários e 458 terceirizados atuando em unidades por todo o estado de Goiás. Mas, afinal, quem são essas pessoas?

Natural de Curitiba (PR), a desembargadora Kathia Albuquerque ingressou na magistratura trabalhista em 1989, como juíza substituta do TRT da 10ª Região (DF/TO). Dois anos depois, ela passou a integrar o TRT-GO, onde construiu sua carreira e chegou ao cargo de desembargadora em 2002. No ano seguinte, ainda no início da carreira de desembargadora, Kathia assumiu a presidência do regional goiano. Para ela, a consolidação do TRT de Goiás como referência nacional está ligada à continuidade administrativa das gestões, sempre voltadas à atividade-fim e ao fortalecimento da instituição.
Ao relembrar o período em que esteve à frente da Presidência, Kathia destaca a intensidade do trabalho e a dedicação integral ao tribunal. A experiência administrativa, que parecia desafiadora no início, acabou se tornando uma paixão, sustentada pelo apoio de uma equipe comprometida de servidores. O reconhecimento aos servidores está diretamente ligado à sua própria história: antes de ser magistrada, atuou como servidora e advogada, o que reforçou seu respeito pelo trabalho desempenhado pelos colaboradores do TRT-GO. “Nunca admiti que levantassem a voz para os servidores da minha equipe”, afirma.
Entre os fatos mais marcantes de sua trajetória, a desembargadora recorda uma audiência em Itumbiara, com um trabalhador e um pequeno proprietário rural. A disputa envolvia questões delicadas, em que a aplicação da lei poderia comprometer a subsistência de uma das partes. Após horas de conversa, foi possível alcançar um acordo, em parte pago com produtos rurais. O episódio é lembrado pela magistrada como exemplo da função pacificadora da Justiça do Trabalho: a capacidade de equilibrar relações humanas e devolver às pessoas a possibilidade de seguir adiante sem romper laços sociais.
Uma das principais figuras da justiça trabalhista é o juiz. Esse profissional atua no primeiro grau e é responsável por analisar e julgar os conflitos entre empregados e empregadores e mediar acordos entre as partes. A história da juíza Antônia Helena Taveira se confunde com a do TRT de Goiás. Ela ingressou em 1993, pouco depois da instalação do tribunal, e desde então passou por diferentes varas em cidades do interior e na capital. Começou como juíza auxiliar na 2ª VT de Goiânia e, após ser promovida a titular, atuou em Itumbiara, Caldas Novas, Anápolis e São Luís de Montes Belos, até se fixar em Goiânia, na 14ª Vara do Trabalho em 2013.
Entre tantas lembranças, uma situação inusitada no início da carreira continua presente na memória da magistrada e da família. Em uma ocasião, sem ter com quem deixar os dois filhos pequenos em Itumbiara, teve que levá-los para a Vara do Trabalho. Um deles entrou na sala de audiência e se assustou ao ver a mãe de toga. “Ele olhou bem para mim e falou: ‘Mamãe, você virou o Batman?’”, relembra, aos risos. Até hoje, com mais de 30 anos, o filho ainda brinca com a cena.
Para ela, o juiz do Trabalho é a face da Justiça. “As pessoas que usam a Justiça do Trabalho veem a Justiça através do magistrado. Cabe a ele humanizar a instituição”, ressalta. Ao longo da carreira, Antônia Helena também percebeu o dinamismo da área trabalhista. “As coisas acontecem no mundo do trabalho lá fora, mas chegam aqui muito rápido. É uma Justiça que pulsa, o retrato quase que instantâneo da realidade. O Direito do Trabalho é construído aqui, no dia a dia, e a gente se sente parte disso”, destaca.


A servidora Ricarda Alexandra Teixeira chegou ao TRT de Goiás em 1994, cedida pela Prefeitura Municipal de Aparecida de Goiânia. Desde o primeiro dia, ela foi lotada na Diretoria-Geral, onde permanece até hoje. “Era um contraste e tanto com o ambiente mais simples da prefeitura de interior de onde eu vinha”, afirma. Depois de 31 anos, ela considera o tribunal sua casa profissional, um espaço de aprendizado contínuo e de convivência duradoura.
Entre as memórias marcantes da carreira, Ricarda cita o incêndio ocorrido em 3 de outubro de 2015 no Complexo Trabalhista de Goiânia, episódio que atrasou a entrega do prédio que estava em construção na época. “Aquilo me chocou demais porque, na Diretoria-Geral, lidamos de perto com tudo que envolve a área administrativa, o que não foi diferente com cada etapa daquele grande e tão sonhado empreendimento”, recorda.
Ao longo dos anos, ela acompanhou transformações estruturais, tecnológicas e culturais no Tribunal e se orgulha de ter contribuído para essa história. Ela reforça a importância dos servidores no dia a dia do regional e deixa conselhos para os futuros servidores: “Trabalhe com dedicação e não tenha medo dos desafios. Aproveite cada momento com os colegas, estabeleça laços saudáveis, ajude e se permita ser ajudado”.
Depois de quase três décadas de dedicação ao TRT de Goiás, o servidor aposentado Geraldo Cézar hoje aproveita o tempo para descansar. Ele ingressou na Justiça do Trabalho em 1984, após aprovação em concurso do TST, e passou pela 3ª Vara do Trabalho de Brasília antes de assumir a então Junta de Conciliação e Julgamento de Rio Verde, onde permaneceu até 2012. Na cidade goiana, exerceu a função de diretor da unidade durante todo o período e conquistou tamanha admiração que, ao se aposentar, recebeu um abaixo-assinado de trabalhadores, empresários e advogados pedindo sua permanência.
Geraldo conta que viveu a maior parte da vida dentro do tribunal, onde se sentiu respeitado e reconhecido por magistrados, servidores e advogados. Ele se orgulha de ter atuado com honestidade e dedicação, sempre em busca do melhor desempenho. “Sempre amei esse tribunal, me entreguei de corpo e alma”, recorda, ressaltando a saudade que sente da rotina no regional e do convívio com a equipe.
Ele também destaca o papel do TRT-GO na qualidade da prestação jurisdicional, que, segundo ele, “junta rapidez, eficiência e recursos tecnológicos capazes de facilitar o acesso à Justiça do Trabalho em todo o Estado”. Além disso, Geraldo Cézar se lembra com carinho das campanhas solidárias realizadas durante seu período em Rio Verde, como a arrecadação de milhares de brinquedos, agasalhos e alimentos, incluindo quase 10 toneladas de alimentos destinados ao Haiti devido ao terremoto que atingiu o país em 2010. “Isso foi extremamente gratificante. Eu acho isso importante para que sirva de exemplo para a geração atual e as gerações futuras, para que possam fazer o que nós fizemos”, afirma.


A servidora Cristianne Saboya ingressou no TRT-GO em 1991, após ser aprovada no primeiro concurso do tribunal. Desde então, construiu sua carreira na assessoria de desembargadores, atuando ao lado dos magistrados Platon Teixeira de Azevedo Filho, Octávio Maldonado, Gentil Pio de Oliveira e, nos últimos 15 anos, com Geraldo Nascimento. Sua trajetória foi marcada pela permanência na área jurídica do tribunal.
A servidora acompanhou de perto a evolução do regional, desde os primeiros anos, quando o Gabinete onde estava lotada recebia apenas sete processos por semana, até o atual volume de cerca de 80 processos semanais. Para Cristianne, ver o crescimento da estrutura e o reconhecimento do TRT-GO como um tribunal de excelência é motivo de orgulho. “Nós trabalhávamos em um prédio improvisado, adaptado, mas era um prédio pequeno. Hoje nós temos essa estrutura física tão grande, um tribunal de excelência, selo diamante”, enfatiza.
Mais de três décadas depois, ela destaca como marco a transformação do TRT-GO e as conquistas dos colegas que se tornaram juízes e desembargadores. Para Cristianne, acompanhar essas mudanças e contribuir para o desenvolvimento do tribunal é muito gratificante. Aos futuros servidores, ela orienta sobre a importância da busca constante por qualificação. “A palavra-chave é ‘conhecimento’. Para entrar aqui, para permanecer, para trabalhar, tem que ter qualificação”, reforça.
O advogado Fernando Mendes começou sua trajetória com o TRT-GO ainda na adolescência. Com 16 anos, iniciou como menor aprendiz. Depois, foi estagiário de nível médio na 1ª turma do tribunal e, mais tarde, estagiário de nível superior na gestão do desembargador Mário Bottazzo. Foi nesse ambiente que ele deu os primeiros passos para construir a carreira que hoje o tornou referência na advocacia trabalhista goiana.
Um dos momentos mais marcantes desse período aconteceu quando, junto a duas colegas, ele protocolou um processo administrativo pedindo o aumento da bolsa de estágio para todos os estagiários do TRT-GO. “Fizemos audiência de instrução e tudo mais. Foi marcante porque conseguimos êxito e aumentamos a bolsa estágio do Estado todo com nosso processo”, conta. Fernando recorda que a iniciativa chamou atenção no tribunal: “Foi um burburinho, porque nenhum estagiário nunca tinha entrado com processo administrativo requerendo isso, foi um fato inédito, saiu até matéria na época”.
Para Fernando, o estágio foi um divisor de águas. Ele destaca que a experiência permitiu conhecer “o funcionamento do outro lado do balcão”, entender a rotina de servidores e magistrados e criar vínculos que se refletiram em sua atuação profissional. Hoje, aos 36 anos, acumula quase duas décadas dedicadas à Justiça do Trabalho, tendo presidido a Associação Goiana da Advocacia Trabalhista (Agatra) no biênio 2023-2024. “O conselho que dou é que o estágio é necessário para o crescimento profissional. Fiz muitos contatos, amigos, e hoje sou muito respeitado na minha área de atuação. Isso não tem preço”, declara.


O terceirizado Alexandre Dias chegou ao TRT de Goiás em 2007, quando aceitou uma vaga na área de limpeza oferecida por uma empresa terceirizada. Desde então, construiu uma trajetória marcada por dedicação e aprendizado dentro da instituição. “Eu tenho o TRT como uma escola de vida. Aprendi muito e aprendo até hoje”, afirma. Ele enfatiza não apenas o ambiente de trabalho, mas também as oportunidades de formação oferecidas pelo tribunal, como cursos, palestras e oficinas.
Com uma história marcada pela dedicação desde muito jovem, Alexandre valoriza o reconhecimento dado aos trabalhadores terceirizados, que, segundo ele, são fundamentais para o funcionamento diário do tribunal. Ele ressalta que a categoria é responsável por estar entre os primeiros a chegar e os últimos a sair, garantindo a organização e o bom andamento das atividades. Durante a pandemia, chegou a temer pela estabilidade no emprego, mas lembra com gratidão a condução do TRT-GO nesse período desafiador, que garantiu sua continuidade no trabalho.
Entre as lembranças mais marcantes de sua trajetória, está o incêndio no prédio do tribunal, em 3 de outubro de 2015, véspera de seu aniversário. “Foi doloroso ver esse prédio pegar fogo, todo o esforço do povo indo embora. Mas teve o lado alegre também, que foi a inauguração depois, como um dever cumprido”, recorda. Ao completar quase duas décadas no TRT de Goiás, Alexandre resume sua experiência em um conselho aos novos colegas: “Dedicação, responsabilidade e carinho pelo tribunal. Se você tiver respeito pelo TRT, o tribunal vai ter respeito por você”.
Ao longo de 35 anos, o TRT-GO construiu sua história a partir do trabalho de várias pessoas. Magistrados, servidores, estagiários e terceirizados deram forma a uma instituição capaz de cumprir sua função social porque é feita por pessoas. Cada decisão, atendimento e serviço prestado trazem a marca de quem se dedica diariamente a tornar a Justiça do Trabalho acessível e efetiva no Estado.
Essa trajetória não se limita ao passado. O que foi construído ainda se faz presente na rotina atual e abre caminho para o futuro, reforçando que o tribunal é resultado de uma construção coletiva e permanente. O TRT-GO carrega um pouco de todos que já passaram pelo regional e continuará sendo movido por aqueles que ainda virão, fazendo da Justiça do Trabalho em Goiás um espaço de serviço público comprometido com a sociedade goiana.
Confira abaixo a galeria de fotos históricas do TRT-GO com os entrevistados (use a seta para passar para o lado ou aguarde a transição automática):
O trabalho das pessoas é o que move a Justiça. E foi com esse mesmo espírito humano que o TRT-GO entrou de vez na era digital. Na próxima reportagem especial dos 35 anos, você vai ver como a tecnologia transformou o jeito de trabalhar e de fazer Justiça em Goiás.
As entrevistas da desembargadora Kathia Albuquerque e do servidor aposentado Geraldo Cézar utilizadas nesta matéria foram extraídas do Programa História Oral, produzido pelo Centro de Memória do TRT-GO.