


Madrinha da turma, desembargadora Wanda Lúcia Ramos, e as formandas. As adolescentes são alunas da rede pública de ensino da cidade de Goiás
A atuação conjunta da Justiça do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho em Goiás ajudou a transformar a vida de 17 jovens atendidas pelo projeto “É de menina que se torna Coralina”, da Associação Mulheres Coralinas da cidade de Goiás. Essa entidade recebeu recursos de uma ação civil pública, dinheiro que ajudou a manter as atividades da associação e a formar as meninas, de 14 a 17 anos, no curso de “Receitas Tradicionais de Goiás, Cerâmica, Bordado e Letramento Literário”. A solenidade de formatura foi realizada na manhã desta sexta-feira, 4/7, no Plenário Ipê do TRT-GO, e teve como madrinha a desembargadora Wanda Lúcia Ramos.
Antes da formatura, as jovens assistiram a uma sessão de julgamento da Terceira Turma do tribunal. A presidente do Colegiado, desembargadora Wanda Ramos, explicou que a ideia foi mostrar às jovens como funciona o tribunal. Segundo ela, após ser convidada para ser madrinha das formandas, ela participou de uma roda de conversa com as alunas e, naquele momento, muitas manifestaram interesse pelas carreiras jurídicas e expressaram o desejo de realizar a solenidade de formatura na sede do TRT-GO. “Elas queriam conhecer de perto a instituição que tanto admiram e que viabiliza oportunidades de transformação em suas vidas, expressando vívida gratidão”, ressaltou a desembargadora.
Primeira a discursar, a desembargadora Wanda Lúcia Ramos abriu a solenidade e compartilhou a conexão profunda que estabeleceu com o grupo desde 2023. “O contato com essas mulheres me deu a oportunidade de exercer minha identidade de mulher, junto de outras mulheres, cada uma do seu jeito, únicas e iguais”, afirmou. Wanda destacou o projeto como um espaço de crescimento pessoal, acolhimento e construção coletiva. “No grupo Coralinas, ninguém diz quanto vale uma mulher”, afirmou, ao falar que no grupo cada uma constrói seu valor no espaço de crescimento pessoal, onde as meninas encontram amizade, apoio e acolhimento.
Ao relembrar as figuras inspiradoras que dão nome ao projeto, Wanda Ramos apresentou Cora Coralina, poetisa goiana que publicou seu primeiro livro aos 76 anos, e destacou o célebre poema Aninha e suas pedras, ressaltando o chamado à reconstrução feminina: “Remove pedras, planta roseiras e faz doces, recomeça”. Ela também homenageou Leodegária de Jesus, reconhecendo a potência de seus versos e lembrando que foi uma mulher intensa que se “costurou sozinha”.
Dirigindo-se às formandas, fez um convite à transformação. “Você não está aqui apenas para sobreviver, você está aqui para florescer, liderar, amar, construir e para se levantar”, afirmou. “Um passo, depois outro passo, depois outro passo. E, no final, vocês vão ver que escalaram a montanha”, concluiu.
Na sequência, a desembargadora Kathia Albuquerque, ouvidora da Mulher do TRT-GO, fez uma reflexão sobre o que chamou de “caminhar, da menina a se tornar Coralina”. Explicou que todas as atividades pelas quais as formandas passaram — cerâmica, letramento literário, bordado e culinária — representam passos importantes nessa jornada de transformação, nesse “caminhar de chegar à montanha, Coralina”, afirmou.
Kathia ressaltou os efeitos positivos das atividades aprendidas no desenvolvimento humano. “A cerâmica trabalha com as mãos, te transforma.” Já o bordado, segundo ela, ativa áreas do cérebro que ajudam no tratamento de doenças como depressão e ansiedade. “Bordar é crescer, é criar, é transformar, como a cerâmica, e toma a sua cabeça.” Compartilhou também sua vivência na Grécia para destacar a importância das atividades laborais feitas com as mãos, entre elas o ato de cozinhar. “A receita aprendida e passada de uma para outra também é uma forma de construção.” Encerrando sua fala, afirmou às 17 formandas: “O degrau que estão galgando será relembrado durante a vida inteira” e desejou que “esse projeto tem que crescer, tem que dar mais frutos como esses”.
A vice-presidente e corregedora do TRT-GO, desembargadora Iara Rios, representou o presidente do TRT-GO, desembargador Eugênio Cesário, na solenidade. Ela destacou ser uma honra participar do evento e afirmou que o projeto é uma inspiração para todos. “Vemos nesse auditório o fruto de uma iniciativa admirável, promovida pela Associação de Mulheres Coralinas e que vem impactando a vida de milhares de mulheres em vários outros municípios goianos, com ações que unem saberes tradicionais, cultura local e inclusão social”, destacou.
Iara Rios salientou que a associação fomenta aprendizados que resgatam a identidade, fortalecem a autonomia e alimentam sonhos, principalmente dos adolescentes da rede pública. A vice-presidente também destacou o incentivo dado ao projeto pela desembargadora Wanda Lúcia, madrinha da turma. “É também motivo de grande orgulho para todos nós saber que a Associação de Mulheres Coralinas é, em grande parte, sustentada por recursos oriundos de ações civis públicas, promovidas pelo sempre atento e diligente Ministério Público do Trabalho da 18ª Região”, lembrou Iara, ao reconhecer que os recursos são revertidos com critério e responsabilidade pelo TRT-GO para apoiar iniciativas que verdadeiramente transformam vidas e impactam a sociedade local.
“É uma parceria virtuosa entre instituições públicas e a sociedade civil em prol da cidadania e da dignidade. Como nos ensinou Cora Coralina, cuja força poética é também símbolo desta jornada: ‘Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina’”, completou Iara Rios. Ela ainda reforçou o valor cultural do projeto. “Quando nós falamos das tradições, da cultura que a gente conhece da cidade de Goiás, que nos representa como goianos, nos dignifica muito e nos tranquiliza saber que essa cultura está sendo propagada, está sendo perpetuada pelas ações da associação e dessas nossas formandas”, ressaltou.
Encerrando sua fala, a vice-presidente do TRT-GO celebrou o protagonismo das jovens participantes. “A vocês, queridas formandas, nossos mais sinceros parabéns. Que essa cerimônia realizada no coração da Justiça do Trabalho em Goiás simbolize um ponto de chegada nessa formatura, mas que não seja só isso. Que seja o início de muitos voos que todas vocês ainda terão ao longo da vida”, concluiu.
O procurador do MPT-GO Tiago Ranieri também se dirigiu às formandas e às autoridades com uma fala centrada em justiça social, feminismo e emancipação. Começou destacando o conceito de filoginia, que definiu como “o apreço pelo feminino”, e falou sobre o simbolismo do papel da madrinha da turma. “O convite para ser madrinha do projeto está relacionado ao lugar de referência, protagonismo e liderança”, explicou, dirigindo-se à desembargadora Wanda. “Nós queremos que as meninas Coralinas se inspirem na pessoa da desembargadora Wanda como protagonista, como uma mulher líder, como uma magistrada que distribui justiça social”, frisou.
Ranieri enfatizou seu compromisso de combater, em todos os espaços, as estruturas patriarcais que alimentam o machismo, a misoginia, o sexismo e a LGBTfobia. Para ele, a formação promovida pela iniciativa vai além da técnica. “É por meio da arte, do letramento literário, do letramento em gênero e social que cada menina toma consciência do seu potencial de ser o que quiser, por escolha própria, sem aceitar os lugares comuns onde muitos de nós, homens, as colocamos.”
Ao citar a escritora, filósofa e feminista francesa Simone de Beauvoir, parafraseou: “Não se nasce Coralina, se torna Coralina”. Inspirado também em Paulo Freire, defendeu o saber como base para a transformação. Finalizou sua participação com um chamado à sororidade e à construção conjunta de uma sociedade mais justa. Ranieri fez referência à escritora norte-americana feminista e negra Audrey Lorde, que disse: “Eu não vou ser livre enquanto alguma mulher não for. Mesmo que a corrente dessas mulheres seja muito diferente das minhas”. “Que vocês, dentro de uma corrente de sororidade, possam se apoiar, umas com as outras, ter homens como aliados para que a gente possa transformar a sociedade, desconstruir e explodir essa estrutura patriarcal machista, sexista, misógina e possam celebrar a filoginia”, arrematou o procurador do MPT-GO.
Desembargador do TRT-GO Elvecio Moura contou um pouco sobre a história das varas do Trabalho do Estado de Goiás
O desembargador Elvecio Moura, integrante da Terceira Turma, também discursou. Ele explicou brevemente às formandas o funcionamento do TRT-GO, contou um pouco sobre a história das varas do Trabalho do Estado de Goiás e falou sobre sua trajetória profissional. Moura ainda se disse orgulhoso de poder participar desse momento histórico e incentivou as formandas: “Quero dizer para cada uma de vocês, meninas: basta vocês quererem. Com isso, não haverá nenhum obstáculo. Pode até ser que alguém duvide de você. Mas você não pode duvidar. Acredite, se você quiser, irá conseguir e chegar lá”.
Desembargador do TRT-GO Marcelo Pedra destacou a coragem das formandas e a relevância social do projeto
Por sua vez, o desembargador Marcelo Pedra, outro integrante do Colegiado, ressaltou que ainda hoje as mulheres recebem remuneração 30% inferior à dos homens pelo exercício da mesma função. “Isso dá uma ideia do tratamento desigual que elas recebem na nossa sociedade ainda em pleno século XXI”, frisou. O desembargador destacou a coragem das formandas e a relevância social do projeto, saudando a Associação Mulheres Coralinas. Ele destacou que as participantes “são as protagonistas deste momento” e que o programa vai além do empoderamento individual, pois “resgata não apenas a autoestima, mas também a cultura do nosso povo.
O magistrado finalizou citando o ativista e político americano Martin Luther King. “Faço minhas as palavras de Martin Luther King, que disse que tinha um sonho, a revolução, o dia em que os seus filhos, os filhos da nação americana, passariam a ser julgados não mais pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu caráter.”
A formanda Lana Laíse de Faria afirmou que sente uma grande honra ao receber o certificado de Menina Coralina. Ela contou que, durante sua formação, teve acesso a vários cursos como de bordado, cerâmica e culinária, mas o seu favorito foi o letramento literário, que abordou sua grande paixão: a leitura. Ela ainda relatou que essa sua primeira visita ao Tribunal Regional do Trabalho de Goiás suscitou nela o interesse de ser uma advogada.
Lana ainda contou sobre como o curso foi crucial para sua percepção de mundo. “Quando tivemos a primeira interação para afirmar o interesse no curso eu percebi que esse lugar era pra mim. Tem pessoas que falam o que eu quero aprender, assuntos aos quais eu não teria contato de onde eu venho. Graças às Meninas Coralinas eu pude ter acesso a essas oportunidades”, enfatizou a jovem.
Coral Labor Em Canto cantou o Hino Nacional e as músicas Noites goianas, Araguaia, Flor e o beija-flor
Mariana de Lima, integrante da associação desde 2016, relatou que antes os trabalhos das Mulheres Coralinas eram dedicados apenas às mulheres mais velhas. Porém, existia o receio de que as tradições, como o artesanato, a culinária e o bordado, não fossem passadas para outras gerações. Com isso, veio a ideia de juntar meninas mais novas com mulheres mais velhas para esse aprendizado mútuo. “Acaba que as mais velhas aprendem com a força das mais novas e vice-versa e com isso se mantém uma porção de tradições da nossa cidade e do nosso estado”, destacou.
Antes de encerrar a solenidade, o padre Daniel Bertuzzi, da Diocese de Goiás, deu a bênção às formandas e fez uma oração. A Diocese é uma das apoiadoras do projeto. Na sequência, todas as 14 formandas presentes receberam certificados de homenagem entregues por autoridades do TRT-GO e do MPT-GO. As jovens estavam acompanhadas das professoras Neusa Moreira e Edna Ázara.
O Coral Labor em Canto também participou do evento, cantando o Hino Nacional e as músicas Noites goianas, Araguaia, Flor e o beija-flor. O evento ainda foi prestigiado por vários juízes do tribunal, procuradores do MPT, advogados trabalhistas e servidores.
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Veja mais fotos da formatura do projeto “É de menina que se torna Coralina”
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