


Desde a infância, quando Letícia olhava para o espelho, ela via uma imagem que não condizia com quem realmente era. Apesar de lhe imporem o uso de vestimentas masculinas, era no grupo das meninas que ela se sentia realmente feliz. Filha de uma empregada doméstica e crescida num lar humilde, com acesso a uma boa educação, foi em sua mãe que Letícia encontrou forças e um porto seguro para enfrentar os desafios de ser uma menina trans.
Aos cinco anos, Letícia já exibia comportamentos femininos e delicados que atraíram a atenção da psicóloga e da professora da escolinha onde estudava, que prestaram todo apoio à menina e à mãe. Esse apoio inicial foi crucial para que a Letícia se sentisse confortável em explorar e expressar sua verdadeira identidade. “Eu já nasci assim!”, afirma, reforçando que suas inclinações não foram condicionadas, mas parte de sua essência feminina desde sempre.
Apesar de ter sido criada apenas pela mãe, Letícia sempre manteve contato com a família do pai e com os dois irmãos paternos, que a abraçaram do jeito que ela é. “O acolhimento familiar foi essencial para a formação da minha personalidade”, lembra Letícia, hoje com um olhar altivo, mas que, no fundo, esconde anos de dor e rejeição. Esse mesmo apoio, porém, ela não encontrou fora de casa. A discriminação em razão de sua identidade de gênero a manteve afastada de oportunidades que poderiam garantir sua independência e estabilidade financeira.
A história da Letícia mudou há cinco anos, quando ela descobriu o projeto “Mais um Sem Dor”, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Justiça do Trabalho em Goiás, que destina verbas de ações civis públicas para financiar cursos de capacitação e abrir as portas do mercado de trabalho às pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, como pessoas em situação de rua, pessoas trans, travestis, imigrantes, reeducandos e vítimas de violência doméstica, entre outros grupos. Em seis anos de existência, o projeto capacitou mais de 2,5 mil pessoas e, com a colaboração de empresas comprometidas com a inclusão, conectou essas pessoas a oportunidades reais de trabalho.
Foi por meio desse projeto que a Letícia, antes discriminada no mercado de trabalho, foi contratada pela Maria Fernanda, sócia-fundadora de uma empresa de moda e confecção de Aparecida de Goiânia que há anos participa ativamente do programa de empregabilidade. “A inclusão de pessoas trans é fundamental para oferecermos a elas a dignidade que merecem. A Letícia é um exemplo de dedicação e superação”, afirma a empresária, que também é referência na empregabilidade de reeducandos.
A determinação em transformar vidas vai além da sala de corte e costura. Maria Fernanda abriu há alguns anos uma filial de sua fábrica dentro do presídio para levar emprego às pessoas privadas de liberdade. Segundo ela, sua empresa não é apenas uma fábrica de roupas; é uma fábrica de sonhos, onde são costuradas histórias de superação de pessoas que viviam às margens da sociedade. “O projeto dá a essas pessoas uma nova chance. Muitas delas nunca tinham trabalhado antes, e aqui elas aprendem uma profissão. Elas chegam sem saber sequer como usar uma máquina de costura, e saem daqui com uma habilidade e uma nova perspectiva de vida”, afirma a empresária. Para ela, esse projeto não apenas transforma vidas, mas também oferece à empresa algo que o dinheiro não compra: propósito. “Incluir pessoas em situação de vulnerabilidade, como reeducandos e mulheres trans, não só transforma a vida delas, mas também traz propósito e valor para a empresa”, diz convicta de que está no caminho certo.
Graças ao emprego com carteira assinada, a Letícia segue sua vida com orgulho e com a possibilidade de sonhar e fazer planos para o futuro. Ela ressalta que projetos como o “Mais um sem Dor” abrem as portas da sociedade para aqueles que sempre foram marginalizados. Letícia se emociona ao dizer que foi graças ao seu emprego na empresa da Maria Fernanda que ela realizou um dos seus grandes sonhos: realizar procedimentos estéticos para alinhar o corpo à sua identidade de gênero. “Eu sempre soube que era feminina, e hoje tenho ainda mais certeza. Como mulher trans, o meu corpo transmite minha força e minha feminilidade”, afirma ao mencionar que tem mais sonhos a serem realizados, como tirar habilitação para dirigir e cursar uma faculdade.
A história da Letícia é um relato de quem venceu na vida apesar do preconceito e da discriminação. Ela conseguiu se capacitar para o mercado de trabalho e ter uma profissão que a faz se sentir feliz e realizada. E a empresária Maria Fernanda, cuja empresa emprega mais de 600 colaboradores, dos quais 140 estavam em situação de vulnerabilidade social, também se sente realizada em liderar uma empresa que se preocupa com o seu papel social. “O esforço vale a pena quando vemos a transformação acontecer”, concluiu.
A Justiça do Trabalho, em parceria com o Ministério Público do Trabalho em Goiás, realiza destinações sociais de verbas provenientes de condenações em ações civis públicas em prol do trabalho decente.
“Mais um Sem Dor” é um projeto de formação humana, qualificação técnica e encaminhamento para o mercado formal de trabalho de pessoas em variadas situações de vulnerabilidade.
O principal objetivo é a “emancipação humana” de pessoas em situação de vulnerabilidade ou marginalidade por meio da inclusão no trabalho decente.
O projeto potencializa a diversidade, naturalizando a convivência com corpos dissidentes. Ao dar voz e visibilidade em todos os espaços sociais, público e privado, o projeto vai além da transformação individual e promove, também, a transformação social.
Cursos, em sua maioria, com duração aproximada de um a três meses.
Costura industrial, assistente de cozinha, design de moda, auxiliar de produção farmacêutica, pedreiro e pintor de obra, estética e técnico em segurança do trabalho
Construção de currículos e orientação sobre comportamento profissional
São parceiros institucionais do projeto a FIEG, o Senai e a Associação Mulheres Coralinas (Goiás-GO).
Para participar é preciso preencher os critérios de vulnerabilidade social listados acima.
Acesse o perfil de Instagram @maisumsemdor e preencha o formulário disponível. Também é possível ir à sede do MPT-GO para se inscrever no projeto.
A equipe do projeto fará uma análise do cadastro e entrará em contato para uma conversa inicial.
Após essa conversa e verificação dos requisitos, a equipe do projeto poderá aprovar a inscrição.
“Portas da Justiça” é uma série de reportagens sobre casos reais de acesso aos serviços da Justiça com um enfoque humanizado, que valoriza a experiência pessoal de quem buscou atendimento. Com ilustrações originais, o projeto aproxima a instituição da sociedade e amplia o conhecimento sobre as diversas portas de entrada à Justiça do Trabalho em Goiás.
Coordenação: Lídia Barros Nercessian
Gerente do Projeto: Lívia de Freitas do Lago e Abreu
Reportagens: Fabíola Mendes Vilela / Lídia Barros Nercessian / Lídia Cristina Neves Cunha / Wendel Franco de Sá Guimarães
Ilustrações: Gustavo Marques da Conceição
Artes Gráficas: Carla Cristina Carvalho / Érika Leite Cardozo / João Carlos Leal
WebDesign: Jaqueline dos Santos Martins Rodrigues
Aprovação: Geraldo Rodrigues do Nascimento
Desde a infância, quando Letícia olhava para o espelho, ela via uma imagem que não condizia com quem realmente era. Apesar de lhe imporem o uso de vestimentas masculinas, era no grupo das meninas que ela se sentia realmente feliz. Filha de uma empregada doméstica e crescida num lar humilde, com acesso a uma boa educação, foi em sua mãe que Letícia encontrou forças e um porto seguro para enfrentar os desafios de ser uma menina trans.
Aos cinco anos, Letícia já exibia comportamentos femininos e delicados que atraíram a atenção da psicóloga e da professora da escolinha onde estudava, que prestaram todo apoio à menina e à mãe. Esse apoio inicial foi crucial para que a Letícia se sentisse confortável em explorar e expressar sua verdadeira identidade. “Eu já nasci assim!”, afirma, reforçando que suas inclinações não foram condicionadas, mas parte de sua essência feminina desde sempre.
Apesar de ter sido criada apenas pela mãe, Letícia sempre manteve contato com a família do pai e com os dois irmãos paternos, que a abraçaram do jeito que ela é. “O acolhimento familiar foi essencial para a formação da minha personalidade”, lembra Letícia, hoje com um olhar altivo, mas que, no fundo, esconde anos de dor e rejeição. Esse mesmo apoio, porém, ela não encontrou fora de casa. A discriminação em razão de sua identidade de gênero a manteve afastada de oportunidades que poderiam garantir sua independência e estabilidade financeira.
A história da Letícia mudou há cinco anos, quando ela descobriu o projeto “Mais um Sem Dor”, iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Justiça do Trabalho em Goiás, que destina verbas de ações civis públicas para financiar cursos de capacitação e abrir as portas do mercado de trabalho às pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, como pessoas em situação de rua, pessoas trans, travestis, imigrantes, reeducandos e vítimas de violência doméstica, entre outros grupos. Em seis anos de existência, o projeto capacitou mais de 2,5 mil pessoas e, com a colaboração de empresas comprometidas com a inclusão, conectou essas pessoas a oportunidades reais de trabalho.
Foi por meio desse projeto que a Letícia, antes discriminada no mercado de trabalho, foi contratada pela Maria Fernanda, sócia-fundadora de uma empresa de moda e confecção de Aparecida de Goiânia que há anos participa ativamente do programa de empregabilidade. “A inclusão de pessoas trans é fundamental para oferecermos a elas a dignidade que merecem. A Letícia é um exemplo de dedicação e superação”, afirma a empresária, que também é referência na empregabilidade de reeducandos.
A determinação em transformar vidas vai além da sala de corte e costura. Maria Fernanda abriu há alguns anos uma filial de sua fábrica dentro do presídio para levar emprego às pessoas privadas de liberdade. Segundo ela, sua empresa não é apenas uma fábrica de roupas; é uma fábrica de sonhos, onde são costuradas histórias de superação de pessoas que viviam às margens da sociedade. “O projeto dá a essas pessoas uma nova chance. Muitas delas nunca tinham trabalhado antes, e aqui elas aprendem uma profissão. Elas chegam sem saber sequer como usar uma máquina de costura, e saem daqui com uma habilidade e uma nova perspectiva de vida”, afirma a empresária. Para ela, esse projeto não apenas transforma vidas, mas também oferece à empresa algo que o dinheiro não compra: propósito. “Incluir pessoas em situação de vulnerabilidade, como reeducandos e mulheres trans, não só transforma a vida delas, mas também traz propósito e valor para a empresa”, diz convicta de que está no caminho certo.
Graças ao emprego com carteira assinada, a Letícia segue sua vida com orgulho e com a possibilidade de sonhar e fazer planos para o futuro. Ela ressalta que projetos como o “Mais um sem Dor” abrem as portas da sociedade para aqueles que sempre foram marginalizados. Letícia se emociona ao dizer que foi graças ao seu emprego na empresa da Maria Fernanda que ela realizou um dos seus grandes sonhos: realizar procedimentos estéticos para alinhar o corpo à sua identidade de gênero. “Eu sempre soube que era feminina, e hoje tenho ainda mais certeza. Como mulher trans, o meu corpo transmite minha força e minha feminilidade”, afirma ao mencionar que tem mais sonhos a serem realizados, como tirar habilitação para dirigir e cursar uma faculdade.
A história da Letícia é um relato de quem venceu na vida apesar do preconceito e da discriminação. Ela conseguiu se capacitar para o mercado de trabalho e ter uma profissão que a faz se sentir feliz e realizada. E a empresária Maria Fernanda, cuja empresa emprega mais de 600 colaboradores, dos quais 140 estavam em situação de vulnerabilidade social, também se sente realizada em liderar uma empresa que se preocupa com o seu papel social. “O esforço vale a pena quando vemos a transformação acontecer”, concluiu.
A Justiça do Trabalho, em parceria com o Ministério Público do Trabalho em Goiás, realiza destinações sociais de verbas provenientes de condenações em ações civis públicas em prol do trabalho decente.
“Mais um Sem Dor” é um projeto de formação humana, qualificação técnica e encaminhamento para o mercado formal de trabalho de pessoas em variadas situações de vulnerabilidade.
O principal objetivo é a “emancipação humana” de pessoas em situação de vulnerabilidade ou marginalidade por meio da inclusão no trabalho decente.
O projeto potencializa a diversidade, naturalizando a convivência com corpos dissidentes. Ao dar voz e visibilidade em todos os espaços sociais, público e privado, o projeto vai além da transformação individual e promove, também, a transformação social.
Cursos, em sua maioria, com duração aproximada de um a três meses.
Costura industrial, assistente de cozinha, design de moda, auxiliar de produção farmacêutica, pedreiro e pintor de obra, estética e técnico em segurança do trabalho
Construção de currículos e orientação sobre comportamento profissional
São parceiros institucionais do projeto a FIEG, o Senai e a Associação Mulheres Coralinas (Goiás-GO).
Para participar é preciso preencher os critérios de vulnerabilidade social listados acima.
Acesse o perfil de Instagram @maisumsemdor e preencha o formulário disponível. Também é possível ir à sede do MPT-GO para se inscrever no projeto.
A equipe do projeto fará uma análise do cadastro e entrará em contato para uma conversa inicial.
Após essa conversa e verificação dos requisitos, a equipe do projeto poderá aprovar a inscrição.
“Portas da Justiça” é uma série de reportagens sobre casos reais de acesso aos serviços da Justiça com um enfoque humanizado, que valoriza a experiência pessoal de quem buscou atendimento. Com ilustrações originais, o projeto aproxima a instituição da sociedade e amplia o conhecimento sobre as diversas portas de entrada à Justiça do Trabalho em Goiás.
Coordenação: Lídia Barros Nercessian
Gerente do Projeto: Lívia de Freitas do Lago e Abreu
Reportagens: Fabíola Mendes Vilela / Lídia Barros Nercessian / Lídia Cristina Neves Cunha / Wendel Franco de Sá Guimarães
Ilustrações: Gustavo Marques da Conceição
Artes Gráficas: Carla Cristina Carvalho / Érika Leite Cardozo / João Carlos Leal
WebDesign: Jaqueline dos Santos Martins Rodrigues
Aprovação: Geraldo Rodrigues do Nascimento