Famílias homoafetivas, justiça e orgulho foram temas de debate no TRT-GO

Publicado em: 13/06/2025
ícone Instagram TRT18 ícone Facebook TRT18 ícone YouTube TRT18 ícone glossário jurídico Dicionário i Toque nas expressões sublinhadas para ver a definição
Uma fila de oito pessoas, quatro homens e quatro mulheres, está de pé em um palco. No fundo, há um auditório moderno com cadeiras e telas.

TRT-GO promove Roda de Conversa da Diversidade: direitos das pessoas LGBTQIA+

O Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-GO) promoveu, na manhã desta sexta-feira (13/6), a Roda de Conversa da Diversidade: direitos das pessoas LGBTQIA+, no Plenário Ipê, no Complexo Trabalhista de Goiânia. Aberta ao público e transmitida ao vivo pelo canal do TRT-GO no YouTube, a atividade integra a programação do mês do Orgulho LGBTQIA+ e foi promovida pelo Subcomitê Regional do Programa de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT-GO.

Na abertura do encontro, o coordenador do Subcomitê, desembargador Marcelo Pedra, destacou que a realização do evento se justifica pela própria realidade social e institucional que exige a garantia de igualdade de oportunidades e direitos para todos. “Buscamos promover um ambiente de trabalho inclusivo por meio de ações afirmativas, campanhas de conscientização e acolhimento de denúncias, a fim de prevenir a discriminação e construir uma cultura que valorize e celebre a diversidade”, afirmou.

Marcelo Pedra observou que temas ligados à identidade estão no centro dos debates da atualidade e que “nunca foi tão necessário discutir diversidade quanto neste momento da história da humanidade”. Para ele, falar da comunidade LGBTQIA+ não é tratar de um assunto teórico, mas  lidar com vidas reais, concretas, que ainda enfrentam hostilidade e desconfiança por simplesmente serem quem são. “Esses fenômenos, infelizmente, se nutrem da ignorância, do preconceito e da desinformação. E, embora estejam na sociedade, também repercutem dentro de nós. Por isso, o combate precisa começar em cada um. Mais importante do que apontar o dedo é se transformar e inspirar pelo exemplo”, ressaltou.

Famílias homoafetivas

No primeiro painel, a psicóloga e doutoranda Alice Canuto (UnB) compartilhou sua experiência como mãe homoafetiva e pesquisadora de homoparentalidade, ou seja, configuração familiar em que dois indivíduos do mesmo sexo, seja um casal de homens ou um casal de mulheres, assumem a parentalidade de uma ou mais crianças. Com base em vivências pessoais e estudos acadêmicos, Alice apontou os desafios sociais, legais e simbólicos enfrentados por essas famílias em um país onde o afeto entre pessoas do mesmo sexo ainda é alvo de preconceito institucionalizado.

Segundo a psicóloga, enquanto casais héteros não se perguntam se podem andar de mãos dadas ou batizar seus filhos, essas e outras dúvidas permeiam a vida de famílias LGBTQIA+.“Eu sou casada com uma mulher e a gente tem um bebê. Então a gente vive cotidianamente essas dúvidas: será que a gente pode batizar? Será que vamos poder entrar na escola? Será que vão aceitar nosso filho?”, contou. Para ela, essas perguntas não deveriam existir, mas ainda fazem parte da realidade de muitas famílias formadas por casais do mesmo sexo. “Nós aprendemos a ter vergonha de quem somos. Mas o orgulho é revolucionário”, disse.

Alice enfatizou a importância do letramento para incluir de fato. “Eu preciso me educar, me perceber e perceber o efeito que eu causo no outro quando falo alguma coisa.” Ela ressaltou que a transformação social exige um olhar honesto sobre si mesmo, perceber como falas e atitudes, mesmo involuntárias, podem ferir e excluir. Ao defender que todos têm um papel na construção de uma sociedade mais justa, independentemente de sua orientação sexual, Alice concluiu com reflexão: “Você não precisa ser LGBT para lutar contra a LGBTfobia. Basta estar disposto a romper o silêncio.”

Uma fotografia de um homem e três mulheres sorrindo para a câmera em um ambiente interno. O homem, à esquerda, veste um terno azul-escuro e uma gravata com um padrão quadriculado claro. Ele segura um certificado branco. As três mulheres estão ao lado dele, cada uma vestindo calças claras e blusas diferentes: uma verde-água, uma listrada em preto e branco e uma preta lisa. O fundo é um espaço amplo com paredes claras e um letreiro com o texto "ALHO ão (GO".

Desembargador Marcelo Pedra, psicóloga e doutoranda Alice Canuto e servidoras do TRT-GO, Lídia Barros e Tula Verusca

Representatividade LGBTQIA+ no sistema de Justiça – “por um judiciário que não apenas permita nossas existências, mas que celebre nossas contribuições”

O segundo painel foi dedicado ao compartilhamento de vivências e desafios vivenciados por pessoas LGBTQIA+ que atuam no sistema de Justiça. A mesa contou com a participação do juiz Gabriel Lisboa, do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), da advogada trabalhista Mônica Bié, diretora da Associação Goiana da Advocacia Trabalhista (Agatra), e do procurador do Trabalho Tiago Ranieri, coordenador do projeto “Mais Um Sem Dor”. Por motivos familiares, Tiago participou por meio de um vídeo gravado. A mediação foi conduzida pela servidora Tula Verusca, do TRT-GO.

Coordenador do Comitê de Equidade e Diversidade de Gênero do TJGO, Gabriel Lisboa relatou que nem sempre se sentiu confortável para se expor em espaços públicos. “Essa pessoa que vocês estão vendo hoje, nem sempre existiu”, conta ao dizer da construção pessoal “com anos de terapia”. Ele relata que quando o Tribunal lançou o comitê da diversidade, ele ainda não se sentia pronto para integrá-lo. Mas em 2020, entrou para o colegiado e colaborou para ações de destaque, como a celebração de um casamento comunitário LGBTQIA+ no TJGO. “O Judiciário não é lugar para ser temido. Deve ser um espaço onde todos se sintam em paz, sabendo que a justiça será feita”, defendeu. Gabriel reforçou que é dever do Judiciário garantir um ambiente seguro, plural e acolhedor.

O magistrado também refletiu sobre o papel da exposição como estratégia de enfrentamento. “A gente precisa se expor, mas também entendo quem ainda não está preparado. Quem consegue, fala. Quem pode, se mostra. Isso inspira. E quem sabe a diversidade esteja naturalizada e as próximas gerações não precisem passar pelo que passamos”, declarou.

A advogada Mônica Bié compartilhou experiências de homofobia vivenciadas ao longo de sua trajetória e destacou a resiliência necessária para se manter e ocupar espaços institucionais. Para ela, resistir vai além de sobreviver: é transformar os espaços que ainda negam reconhecimento. “O Judiciário precisa fazer mais que aplicar a lei, deve ser exemplo de dignidade, pluralidade e inclusão”, disse. Mônica encerrou sua fala com um chamado à transformação: “Que possamos construir um Judiciário que não apenas permita nossa existência, mas celebre nossas contribuições.”

O procurador do Trabalho Tiago Ranieri afirmou que “a diversidade não deve apenas ser respeitada, ela precisa ser potencializada”. Para Ranieri, que integra o Fórum Nacional LGBTQIA+ do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o reconhecimento institucional dos corpos dissidentes é fundamental para uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. “A diversidade é o natural. O padrão é uma construção. E quando essa construção exclui, ela violenta desde a infância até a fase adulta”, declarou.

Ranieri também compartilhou sua trajetória como homem gay, vindo de uma família humilde do interior de Goiás, e refletiu sobre os marcadores sociais que frequentemente antecedem o reconhecimento da humanidade das pessoas. “Muitas vezes, a sociedade enxerga primeiro a cor da pele, a orientação sexual ou a deficiência e, só depois, ou nunca, a potência daquele ser humano”, pontuou. Segundo ele, falar sobre diversidade é um ato político e uma responsabilidade: “Não quero que vejam meu cargo como mérito. Sou, acima de tudo, um sobrevivente de uma estrutura patriarcal, racista, capacitista e LGBTfóbica que ainda marginaliza muitos corpos”. 

Além disso, ele ressaltou que a visibilidade de pessoas LGBTQIA+ em espaços públicos e institucionais ajuda a romper padrões impostos historicamente. “É importante falar da minha orientação sexual, mesmo quando isso não é exigido, porque essa visibilidade pode incentivar outros corpos como o meu a ocupar espaços públicos, privados e de poder.” Ranieri reforçou que o combate à LGBTfobia passa pela desconstrução de padrões e pela disposição em reconhecer o outro para além dos rótulos. “Antes de enxergar a potência de um ser humano, a sociedade enxerga os rótulos que impõe. Isso precisa mudar”, completou, parabenizando a Comissão de Diversidade e o desembargador Marcelo Pedra pela realização do evento.

O evento pode ser novamente assistido neste link.

Veja mais imagens da roda de conversa neste link

LN/LB/JA

Ficou em dúvida quanto ao significado de algum termo jurídico usado nessa matéria?
Consulte o dicionário jurídico.
Esta matéria tem cunho meramente informativo, sem caráter oficial.
Permitida a reprodução mediante citação da fonte.
Coordenadoria de Comunicação Social
Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região
comunicacao@trt18.jus.br