
A missão principal do TRT-GO, todos sabemos: realizar justiça nas relações de trabalho. Mas na trajetória desses 35 anos de existência, o Tribunal foi além, andando junto da comunidade para colaborar onde ela mais precisa, em áreas como saúde, educação, segurança, assistência social e meio ambiente.
Nesta última matéria da série especial dos 35 anos do TRT-GO, você vai conhecer ações que nasceram da sensibilidade e do compromisso coletivo de servidores, magistrados e parceiros que fizeram da solidariedade uma extensão da Justiça.
Ao longo dos anos, o TRT-GO tem se destacado não apenas na mediação de conflitos trabalhistas, mas também na promoção de ações com impacto direto na sociedade. Por meio de Ações Civis Públicas, em parceria com o Ministério Público do Trabalho, o Tribunal destina recursos provenientes de condenações a iniciativas que fortalecem serviços essenciais, como saúde, segurança e educação. Entre essas ações, destacam-se investimentos em equipamentos modernos e treinamentos para o Corpo de Bombeiros, ampliando sua capacidade de resposta a incêndios e salvamentos em Goiás.
Um ano depois do incêndio que abalou a obra de construção da nova sede do TRT-GO, um acordo judicial entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e uma instituição bancária foi homologado pelo juiz do Trabalho Ronie Sousa, com a destinação de mais de R$ 6 milhões ao Corpo de Bombeiros de Goiás em 2016.
O recurso foi utilizado para aprimorar o treinamento de bombeiros em todo o Estado e importar um veículo de alta tecnologia com uma escada automatizada capaz de acionar jatos de água a uma altura de 42 metros, um dos melhores do mundo.

“Antes, a corporação usava um veículo da década de 70 que atingia pouco mais de metade dessa altura e a cada uso precisava passar por manutenção”, conta a capitã Ana Paula Finotti, que atuou no TRT-GO. De lá para cá, o veículo foi usado em inúmeros combates de fogo e salvamento de pessoas. A escada que dispara água também transporta pessoas e foi usada para resgatar quatro pessoas que ficaram presas em um brinquedo de altura do parque Mutirama em 2019. Ainda hoje, é o equipamento mais moderno da corporação para combate a incêndios.

Criança é criança em qualquer circunstância. Mais de 20 anos atrás, o Tribunal instituiu um projeto para ajudar esses pequenos sonhadores a lutar contra uma doença capaz de abalar qualquer um, sem perder de vista a alegria própria da infância. Assim nasceu o TRT Voluntário, em 2004, um gesto coletivo que se tornaria uma das marcas mais emocionantes da história do Tribunal. Desde então, o projeto atua para revitalizar ambientes, realizar reformas e levar melhorias constantes à ala oncológica infantil do Hospital Araújo Jorge.

A imaginação fértil dos pacientes voa junto da pipa colorida da parede da sala de espera para o tratamento de câncer do hospital. Mas nem sempre foi assim. “Era um ambiente sem cor, triste, havia até uma lata de tinta servindo como lixeira”, conta o servidor Paulo Márcio Castilho, hoje aposentado, e que conduziu as atividades do TRT Voluntário por mais de uma década. “Sempre gostei de ajudar e quando visitei a pediatria do Araújo Jorge e vi aquele cenário, pensei: ‘quero que a mãe entre aqui e veja luz e cura para o filho dela’”, narra Paulo. Em uma das visitas, ainda nos primeiros anos do projeto, o servidor lembra de uma paciente cega, Ana Clara, que lhe pediu uma televisão. “Naquele mesmo dia, voltei com uma TV para o quarto dela. No dia seguinte, passei e a vi rindo diante da tela”, recorda, emocionado.
A proposta de criar um programa de voluntariado partiu da desembargadora Kathia Albuquerque, presidente do TRT à época, conta o servidor Ricardo Lucena, que então colocou a ideia em prática por meio do desconto em folha de apenas R$ 3 dos servidores e juízes. “Quem não quisesse participar, poderia solicitar sua saída, ou doar outro valor”, conta Ricardo. Mas a participação foi maciça: mais de 90% do público interno aderiu. Treze anos depois, o Tribunal realizou uma campanha interna com sugestão de valores maiores de participação.
A equipe do hospital reconhece o trabalho de transformação realizado pelo Tribunal. A médica Rose Gusmão, administradora do hospital, conta que é comum ouvir a frase “isso aqui foi o TRT que deu”. Das poltronas às camas, passando pelo uniforme da equipe, piso e pela brinquedoteca.
Atualmente, são arrecadados mais de R$ 100 mil anuais, que além de melhorias no hospital, já foram utilizados para aquisição de cestas básicas durante a pandemia, para apoiar o projeto Levando Amor, que atende crianças carentes em Aparecida de Goiânia, e para enviar ajuda às vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul, em 2024.
Quando a pandemia de Covid-19 paralisou o mundo, o caos também chegou em Goiás. Hospitais lotados, escassez de oxigênio e sobrecarga dos profissionais de saúde marcaram aquele tempo. “Foi um período muito difícil, do qual todos nós lembramos com um aperto no coração”, recorda o desembargador Daniel Viana Júnior, presidente do TRT-GO no biênio 2021/2022. “O mundo estava reabrindo e, de repente, veio a variante Ômicron [do vírus], trazendo de volta o medo e as incertezas.”
Em meio à crise, a rápida articulação do TRT-GO e o MPT-GO permitiu socorrer as áreas da saúde e assistência social no Estado com verbas de condenações em ações civis públicas.
Ao final de 2020, as destinações somaram R$ 12 milhões, aplicados em respiradores, leitos de UTI, pesquisas científicas e cestas básicas para famílias em vulnerabilidade. “Foi um trabalho que salvou vidas”, resume Daniel Viana.

No início de 2021, mais uma destinação garantiu a conclusão da construção de três usinas de oxigênio medicinal. “Elas custariam R$ 2,5 milhões e faltavam ainda R$ 1,2 milhão. Conseguimos repassar esse valor, que foi primordial, chegou na hora certa”, registrou o desembargador Daniel. O auxílio da Justiça do Trabalho fez a diferença. Além das destinações judiciais, a solidariedade se espalhou entre servidores e magistrados. “Aquele sentimento de união tomou conta de todos nós”, relembra Daniel.
Campanhas de arrecadação mobilizaram o público interno, como a que ocorreu durante a vacinação do público interno contra a gripe, realizada no ano de 2020 no formato drive-thru, a fim de manter o distanciamento necessário. Na oportunidade, foram arrecadadas 14 toneladas de alimentos para famílias carentes.
Hoje, a discussão sobre sustentabilidade é regra em todos os tribunais. Mas no TRT de Goiás essa pauta floresceu muito antes de se tornar uma exigência nacional. Em 2002, o Tribunal lançou sua primeira campanha de coleta seletiva de papel com o lema “Preservar é uma atitude de cidadania”. O material recolhido era doado a entidades filantrópicas, que o revendiam a empresas de reciclagem.

Naquele mesmo ano, a energia elétrica também entrou no alvo da economia. “Sofremos um corte orçamentário e conseguimos alcançar uma redução de 50% nos gastos de energia elétrica”, recorda Ricardo Lucena, então diretor-geral. A economia veio do esforço coletivo: agentes de polícia judicial e vigilantes do Tribunal diariamente visitavam todas as salas para checar o desligamento de luzes e ar condicionado. “Sempre tivemos uma cultura de economia e otimização do recurso público”, destaca Ricardo.
Anos depois, um mascote chamado “EconomiCão” ganhou vida para comunicar de forma leve e constante a necessidade de uso racional de recursos. O personagem, um cão vigilante e amigo dos servidores, trazia dicas práticas com o lema de “vencer a batalha contra o desperdício”. Além disso, o uso da energia solar foi sendo gradualmente ampliado e hoje está presente em 17 edificações da Justiça do Trabalho em Goiás.
Em 2013, foi a vez de o Tribunal criar o Setor de Responsabilidade Socioambiental, um avanço na sua estrutura, uma vez que até então existia apenas uma comissão voltada para o tema. O setor nasceu para medir e acompanhar quatro indicadores de sustentabilidade, mas logo ampliou suas atribuições para incluir outros 15 indicadores e abraçar mais frentes de atuação, como a levantamento das emissões de gases de efeito estufa e o plano de descarbonização, e o apoio aos programas sociais. “A Sustentabilidade é um tripé, que busca integrar as dimensões ambiental, econômica e social”, explica Lara Nercessian, primeira gestora da unidade.

Logo em seu primeiro ano, a unidade lançou uma campanha impactante contra o uso de um dos vilões do meio ambiente, os copos plásticos. Uma grande rede de pesca foi instalada na entrada do Tribunal, onde os copos usados eram depositados até se acumularem como símbolo do impacto coletivo do consumo. “Muitos colegas ainda viam o copo plástico como algo inofensivo”, relembra Lara. O consumo anual de 1,6 milhão de copos caiu gradualmente até chegar a zero em 2025.
A economia foi expressiva também no uso de papel. Em 2017, o projeto “Deixe uma Boa Impressão” reduziu em 80% a quantidade de impressões e foi finalista do Prêmio Justiça do Trabalho Acessível 2023, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT).
Mais recentemente, o Tribunal ampliou seu compromisso ambiental com iniciativas de compensação das emissões de gases de efeito estufa, alinhadas às metas do programa Justiça Carbono Zero, do CNJ. O programa nacional estabeleceu que todos os órgãos do Poder Judiciário devem medir, reduzir e neutralizar suas emissões de carbono até 2030.
O TRT-GO, porém, deve cumprir a meta antes do prazo, com o projeto “Plantando o Futuro”, lançado em 2025. As primeiras mudas já foram plantadas e, com elas, a esperança de recuperar uma das nascentes do Rio Meia Ponte. Ao todo, 18 mil árvores nativas do Cerrado serão cultivadas nos próximos quatro anos, compensando mais de 500 toneladas de CO₂ por ano, com benefícios que se estenderão por duas décadas.
“O cuidado que temos hoje com o uso dos recursos naturais e com ações de recuperação ambiental é uma forma concreta de assumir a responsabilidade sobre o impacto das atividades da Justiça do Trabalho”, afirma o presidente, desembargador Eugênio Cesário. “Cada árvore plantada é um compromisso com o futuro, uma iniciativa que melhora a qualidade de vida agora e também das próximas gerações.”
Uma Justiça que atravessa os muros e vai onde as pessoas estão. Há mais de uma década, a Justiça do Trabalho realiza ações de impacto social no mundo do trabalho.Em 2013, mais de 260 ônibus circularam por Goiânia e região metropolitana com o lema “Eu dirijo a vida com cuidado — respeito a legislação de trânsito e as normas de segurança no trabalho”. Estampadas na traseira dos veículos, fotos de trabalhadores transformaram os ônibus em outdoors em movimento, levando o alerta sobre prevenção de acidentes ao cotidiano da população.
Naquele mesmo ano, o TRT-GO lançou a campanha “Cartão Vermelho para o Trabalho Infantil”, que ocupou estádios de futebol e mobilizou torcidas em defesa da infância. O gesto simbólico de erguer uma faixa de 15 metros de comprimento se tornou uma imagem marcante na história do Tribunal, reafirmando o compromisso institucional com o fim do trabalho infantil. As duas iniciativas marcaram a agenda de dois programas sociais que, desde 2012, são permanentes na Justiça do Trabalho: o Programa Trabalho Seguro e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem.

Para fortalecer o Trabalho Seguro, o Tribunal passou a organizar, desde 2017, visitas periódicas a empresas de médio e grande porte, com equipes formadas por magistrados, procuradores e psicólogos, para dialogar diretamente com empregadores e trabalhadores sobre prevenção de acidentes e saúde ocupacional. O projeto foi batizado de Café Seguro, não apenas pelo café compartilhado, mas pelo clima de diálogo e confiança que se cria. Com 21 edições realizadas, já impactou dezenas de milhares de pessoas. Segundo o desembargador Welington Peixoto, gestor do programa, “a ideia é simples, mas poderosa: aproximar a Justiça do Trabalho da realidade cotidiana do trabalhador”.

Já o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil se somou ao projeto “Trabalho, Justiça e Cidadania” (TJC), iniciativa da Associação de Magistrados do Trabalho da 18ª Região (Amatra 18) realizada desde 2007, que leva juízes a escolas públicas para dialogar com estudantes e professores sobre direitos no universo do trabalho. Com o apoio do programa e de entidades parceiras, o TJC ganhou novas ações, como concursos culturais, apresentações artísticas e um evento anual com estudantes na sede do TRT-GO.


Se as campanhas educativas aproximaram o Tribunal da sociedade, o passo seguinte foi olhar para outras vulnerabilidades que ainda marcam o mundo do trabalho, da escravidão contemporânea à discriminação racial e de gênero.
Nesse sentido, foram criados nacionalmente dois novos programas: o de Enfrentamento ao Trabalho Escravo, ao Tráfico de Pessoas e de Proteção ao Trabalho do Migrante, instituído no TRT-GO em 2023, sob coordenação do desembargador Mário Bottazzo; e o Programa de Equidade de Raça, Gênero e Diversidade, instituído em 2024 e coordenado em Goiás pelo desembargador Marcelo Pedra. Mesmo recentes, eles já saíram do papel e chegaram à sociedade com ações práticas de sensibilização e proteção de direitos.

Todos os quatro programas atuam para promover mudanças que vão além da análise de processos judiciais. A ideia que pulsa é uma Justiça que educa, que acolhe e que se reinventa, sempre fiel à missão de fazer do trabalho um espaço de dignidade.

Para o presidente do TRT-GO, desembargador Eugênio Cesário, a atuação social e educativa da Justiça do Trabalho traduz o papel transformador que o Tribunal deve exercer na vida das pessoas. Ele afirma que fortalecer a presença da instituição na sociedade é um compromisso que une passado e futuro. “Queremos ampliar o alcance dos serviços da Justiça do Trabalho, investindo em tecnologia, linguagem simples e projetos que levem informação e cidadania a trabalhadores e empregadores. A Justiça do Trabalho é um espaço de equilíbrio e diálogo, onde buscamos garantir segurança jurídica, dignidade e desenvolvimento social para Goiás”, destaca o presidente.
Ao celebrar os 35 anos de existência do TRT-GO, o desembargador reforça que o compromisso do Tribunal é seguir crescendo em relevância, eficiência e proximidade com a sociedade. Para ele, o futuro da instituição passa por ampliar o acesso à Justiça no interior do Estado, investir em inovação e fortalecer a cultura da conciliação, permitindo que os conflitos sejam resolvidos de forma cada vez mais ágil e pacífica. “O engrandecimento do Tribunal se mede não apenas pela sua estrutura ou tecnologia, mas pelo alcance social do seu trabalho e pelo impacto positivo que gera na vida das pessoas”, conclui.
Esta é a última reportagem da série especial em comemoração aos 35 anos do TRT-GO. Nas reportagens anteriores, você, leitor(a), fez um passeio pela história da instalação do Tribunal, em Goiânia, a saga para se fazer presente no interior do Estado, as transformações digitais que modernizaram seus serviços e conheceu algumas das pessoas que compõem as variadas forças de trabalho da Justiça do Trabalho em Goiás.
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