Programa História Oral conta um pouco da trajetória do servidor aposentado José Cirilo Correia

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Servidor aposentado José Cirilo Correia

“Preservar a memória institucional não é só resgatar o passado. Também é compreender as diferenças e reconhecer os limites de cada período. Preservar a memória institucional é manter a instituição viva e também uma forma de fortalecer suas bases. Para que essa memória seja preservada, é preciso conservar fotos, documentos, objetos e organizar os registros dos fatos. Os erros e acertos do passado ajudam a entender o presente e a planejar ações futuras”.

É preciso olhar para as pessoas, pois a história institucional é uma construção que traz em si as marcas dos sujeitos que dela fazem parte. Tanto os servidores que passaram pelo TRT18, como os que continuam trabalhando nele têm dado sua contribuição para construir essa história que se busca preservar.

O Programa de História Oral – produzido pelo Centro de Memória deste tribunal, tem como um de seus objetivos registrar a história da justiça trabalhista no estado, através de depoimentos pessoais de seus próprios autores. Eles reavivam sua memória para relatar fatos marcantes que viveram na instituição. Por trás de cada aspecto levantado, há muitos sujeitos que contribuíram com seu trabalho e ações, motivados pelas demandas do seu tempo e pela situação social, política e econômica de cada época.

Nas próximas linhas, trazemos à tona os depoimentos e uma breve história da vida e da trajetória nesta especializada do servidor aposentado José Cirilo Correia, testemunha viva do surgimento e da evolução da justiça trabalhista no estado de Goiás.

Natural de Orizona, Goiás, nasceu aos 18 de março de 1946. De origem humilde, viveu sua infância e adolescência praticamente na zona rural. Trabalhava na roça e também numa olaria, ajudou a moer cana, conduzindo carro de bois, entre outros. Cirilo iniciou seus estudos na zona rural mesmo e devido à carência de escolas naquele lugar, só completou o ensino primário quando foi para o exército – na chamada escola regimental. Recorda que, quando adolescente, pensava em se tornar um comerciário. Naquela época, observava que essa profissão era muito respeitada.

Após deixar o exército mudou-se para Brasília, já com outra mentalidade, sentiu a necessidade de dar continuidade aos estudos. Iniciou sua vida laboral, trabalhando como servente de pedreiro na construção civil, na edificação da Universidade de Brasília – UNB e Palácio do Itamarati. Após serventia na construção civil, trabalhou ainda na administração do acampamento da construtora Rabelo, sediada em Brasília-DF.

Certo dia, um amigo lhe convidou para vir a Goiânia. Apesar de ser goiano, não conhecia a capital do seu estado. Aqui chegando, após realizar uma prova, foi incorporado à Polícia Militar do Estado. E, ao finalizar o curso de soldado, foi escolhido entre 120 candidatos para trabalhar como segurança no gabinete militar do Tribunal de Justiça de Goiás.

Depois de algum tempo, foi convocado para trabalhar como segurança em um cartório eleitoral, não muito tempo depois foi requisitado para trabalhar na 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de Goiânia, hoje 1ª Vara do Trabalho, com o diretor de secretaria Paulo Roberto Fleury da Silva e Souza (Bob) e com o juiz do Trabalho Herácito Pena Júnior.

Devido à falta de servidores, a pedido, começou a realizar alguns serviços na secretaria da Junta. Mesmo fardado de policial, colocava a arma na gaveta e ali auxiliava nos trabalhos diários da JCJ. Muito dedicado, em pouco tempo, ganhou a confiança e o carinho do juiz, servidores e advogados.

Entretanto, Cirilo almejava melhorar sua situação financeira, pretendia fazer um curso para tornar-se cabo ou sargento. Para isso, era necessário mudar de local de trabalho para dispor de tempo para estudar. No entanto, existiam rumores de que a qualquer momento o TRT da 3ª Região, Tribunal ao qual a 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de Goiânia era jurisdicionada à época, poderia divulgar o edital de um concurso público para preenchimento de vagas. De tanto os juízes Herácito Pena Júnior e Domingos Atair Batista insistirem para que aguardasse o concurso, ele foi adiando a sua saída.

Depois de muito esperar, o edital foi publicado e finalmente pôde inscrever-se, escolheu o cargo de auxiliar judiciário. Determinado a fazer parte do quadro da Justiça do Trabalho, trabalhava durante o dia e à noite estudava, abdicou dos fins de semana e aonde ia levava consigo o CPC, uma apostilha, a CLT e a Constituição Federal debaixo do braço. Estudava sempre que encontrava uma brecha, às madrugadas, após o almoço, no ponto e dentro do ônibus a caminho para o trabalho. Certa vez, imerso nos estudos, passou a maior atribulação por ter pego o ônibus errado de volta para casa e sem ter dinheiro para pagar nova passagem.

As provas foram realizadas em 4 etapas, a duras penas e com ajuda do pessoal da Junta e do juiz Herácito que conseguiu com os empresários a doação de todas as passagens. Cirilo deslocava-se de ônibus até Brasília e de lá embarcava noutro com destino a Belo Horizonte. Após seis meses de muita luta e anseio, foi aprovado em primeiro lugar no cargo pretendido, e no ano de 1971, passou a integrar o quadro dos servidores da 3ª Região.

Cirilo Corrêa é das antigas na justiça trabalhista goiana. É da época em que havia apenas duas JCJs no estado: uma em Anápolis com 5 servidores e outra na capital com seis. Segundo ele “a 1ª JCJ de Goiânia funcionava numa sala bem pequena, cedida pelo TRE, localizada na Praça Cívica, uma sala voltada para a Avenida Goiás, dividida em dois ambientes, sendo a secretaria e a sala de audiência, onde os servidores trabalhavam comprimidos. Não havia o mínimo de conforto, possuía apenas um ventilador velho, quando ligado atrapalhava a realização da audiência de tão barulhento.

“Foi uma época muito penosa” – relembra ele! “As instalações eram precárias, faltava pessoal, material de expediente, existia apenas uma máquina de escrever. Devido à distância da sede em Belo Horizonte, sobrevivíamos com as doações dos vogais, advogados e sindicatos, até para receber o salário era dificultoso”.

Afirma ainda que “não havia banheiro e nem água nas salas da Junta, e o pior, éramos impedidos de usar o banheiro e o lavatório pela delegada do TCU – que também utilizava duas salas no mesmo andar do imóvel do TRE. Quando necessário, saíamos pelos bares da redondeza procurando quem nos permitisse usar o banheiro e deixasse tomar água de torneira. Não sei como sobrevivemos a tantas dificuldades!”

O certo é que Cirilo assistiu ao surgimento de uma acanhada Justiça do Trabalho no estado, a viu germinar, crescer e se estabelecer. É um remanescente da 3ª Região, passou pela 10ª, optou pela 18a quando da sua instalação. Trabalhou nesta especializada nos seus tempos mais penosos, mas também contemplou e vivenciou um tribunal bem estruturado, bem equipado e confortável e uma justiça célere e respeitada.

Investiu em si mesmo, graduou-se em Direito pela Faculdade Anhanguera, hoje Uni-Anhanguera. Fez pós graduação, em nível de especialização em direito civil e processo civil. No TRT18 teve uma carreira exitosa, assumiu diversos cargos de confiança: Foi sub-diretor da 1ª JCJ de Goiânia, assistente de juiz, diretor – instalador da JCJ de Catalão; auxiliou na instalação das Juntas de Jataí e Caldas Novas, orientando seu diretor e servidores nos serviços de secretaria; diretor da JCJ de Luziânia; diretor administrativo do fórum de Anápolis, chefe de gabinete da desembargadora Ialba-Luza Guimarães de Mello.

Trabalhou por 27 anos na Justiça do Trabalho, aposentou-se em 1998. Hoje advoga nas áreas cível e agrária. Possui sua acolhedora fazenda com alguns bons alqueires de terras, cria gados de leite e ainda planta soja e milho, é onde costuma desfrutar com sua família os finais de semana e feriados.

Ariony Chaves de Castro – Centro de Memória

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